Análise – Carrion

Fugindo da mesmice ao apresentar um conceito, ainda pouco explorado, Carrion é um dos mais bem sucedidos lançamentos em games indies do ano. Ao colocar o jogador no papel de uma criatura monstruosa e de origem desconhecida, a desenvolvedora Phobia Game Studio aposta no conceito de horror reverso como diferencial para o título, mas será que isso é o suficiente para garantir à obra o seu lugar no panteão dos games independentes?

Mecânicas

Para começar, falemos da narrativa, que é propositalmente solta. Nada, em momento algum da aventura, é devidamente explicado sobre o enredo. Logo, tanto o final quanto os flashbacks que o jogador vivencia, deixam margens para diversas interpretações.

É importante esclarecer que tal fato não é necessariamente um problema. Diversos títulos famosos usam esse tipo de narrativa, Limbo e Little Nightmare são só alguns exemplos. Contudo, se você é daqueles que gostam de narrativas bem definidas, certamente irá se sentir desconfortável com Carrion.

Falando em flashbacks, o game utiliza tal recurso para acrescentar detalhes ao enredo, porém não o faz de maneira satisfatória. Infelizmente, além de ser utilizado poucas vezes, o que é apresentado durante os flashbacks é um conteúdo tão vago que poderia facilmente ser excluído do produto final sem maiores prejuízos a narrativa. Simplesmente, o que é apresentado não faz falta. O que é uma pena, quando se pensa no potencial que o recurso poderia trazer à imersão do jogo.

Seguindo pela linha de imersão, o áudio do jogo merece um parabéns com ressalvas. A trilha sonora é impecável e casa perfeitamente com a ambientação do game. Os efeitos sonoros também são um show à parte, desde o barulho dos tiros até o som dos ossos triturados são muito bem feitos. Contudo, baseado na minha experiência jogando, é melhor diminuir o nível dos efeitos sonoros para melhor degustar as músicas de fundo. Além disso, algo que me incomodou levemente, foi o fato dos gritos serem feitos de forma aleatória, um grito feminino oriundo de um personagem visivelmente masculino e vice-versa, não é um grande problema, mas senti falta de um maior cuidado com esse detalhe.

Complementando o som, os gráficos também são muito bons. A escolha de imagem pixelada foi uma aposta certa da desenvolvedora. Particularmente, não acredito que o jogo ficaria tão agradável aos olhos se fosse optado por um 2.5D como é o caso de My Friend Pedro, por exemplo.

Somando a isso, temos animações bem definidas para cada elemento em tela. Desde os humanos até a criatura, passando pelos drones, nada fica feio ao  movimentar-se, fato importantíssimo em títulos que escolhem gráficos pixelados.

Um quesito que não há do que reclamar é a jogabilidade, que é agradabilíssima. É tudo muito preciso e gostoso de se controlar e o uso do analógico direito encaixa muito bem dentro da estrutura física do personagem. Aliás, o monstro que controlamos muda de tamanho ao decorrer da aventura, e essa mudança é sentida na jogabilidade de forma natural.

Explicando melhor, nossa monstruosidade protagonista começa pequena e aumenta no decorrer da aventura, diminuindo também quando necessário, ou quando atingida em combate. Os diferentes tamanhos, além de permitirem habilidades diferenciadas, têm impacto direto na movimentação da criatura. Quando pequeno, apesar de mais frágil, o monstro é mais rápido e sutil. Quando maior, o protagonista é mais resistente, contudo mais desengonçado e difícil de controlar, além de mais difícil de esconder.

Mas afinal, o que é Carrion? Resumindo para vocês, Carrion é um jogo de puzzle com elementos de metroidvania. Em mais da metade do tempo você se verá tentando resolver puzzles, com dificuldade de fácil à moderada, para poder prosseguir.

Do gênero metroidvania, nós temos o level design que se interconecta, com a decisão no mínimo ousada de não ter mapa, o que faz o jogador se sentir confuso as vezes, mas nunca perdido. Além do mais, temos a necessidade de ter, como pré-requisito, algumas habilidades para alcançar determinadas regiões do mapa.

Intercalando esses momentos haverá batalhas, pouco variadas e levemente difíceis mas que não chegam a ser frustrantes. Infelizmente, as batalhas foram o quesito que me deixou desapontado. Além da baixa variedade de inimigos, o ambiente pouco ajuda numa abordagem mais stealth ou criativa, o que atrapalha a imersão no papel de monstro.

As habilidades adquiridas são outro ponto de oportunidade para se melhorar. Algumas são usadas uma ou duas vezes no máximo, só para se alcançar determinada área do mapa e esquecidas logo após. Carrion não é o primeiro título com esse problema, porém na humilde opinião deste que vos escreve, é imperdoável em jogo de 2020.

Veredito

Um título curto, que pode ser fechado em um fim de semana, que é legal de jogar uma vez, mas que dificilmente vai despertar a vontade de ser revisitado. Carrion se encaixaria melhor nos anos 90, época que além da temática “monstro” ser mais bem popular, foi a era de ouro das locadoras de games.

CONCLUSÃO
Carrion é um titulo que pensa fora da caixa, e essa criatividade é bem vinda e torna o jogo atraente. Infelizmente, as mecânicas aplicadas não são boas o suficiente para garantir o interesse no game após fechá-lo pela primeira vez.
Gráficos
9
Som
8.5
Jogabilidade
9
DIversão
7
Reader Rating1 Vote
7.3
Prós
Temática original
Graficamente bonito e interessante
Trilha e efeitos sonoros caem bem com a ambientação
Contras
Level design confuso
Batalhas mornas
Fator replay abaixo do esperado
8.4

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