Análise – Tails of Iron

Desenvolvido por
Odd Bug Studio
Publicado por
United Label
Lançamento
17/09/2021

O gênero espada e escudo sempre ocupou espaço nos corações de quase todo mundo. Passando pelas histórias de aventureiros enfrentando dragões, um grupo que se dispõe a destruir um anel maligno ou na guerra contra uma bruxa de gelo, sempre houve os heróis que usaram escudos e alguma arma a mais para enfrentar os oponentes mais malignos possíveis.

Mesmo se você não gostar de literatura medieval fantástica, deve admitir que poucas coisas são tão emblemáticas, independentemente se é herói ou não, quanto a imagem de um guerreiro com espada e escudo na mão. Uma prova disso, é que umas das batalhas mais épicas que há no universo dos games é a luta de Ganondorf contra Link em Zelda: Twilight Princess, onde basicamente, cada um utiliza os referidos equipamentos.

É óbvio que há outras possibilidades igualmente empolgantes, mas poucos combates fora do gênero são épicos da mesma maneira, em termos de videogame, quanto a sensação de esquivar, aparar e contra-atacar em batalhas corpo a corpo. Percebo que recentemente o gênero espada e escudo em perspectiva side scroll tem ganhado  bastante força dentro do universo dos videojogos. Recentemente, tivemos Flynn: Son of Crimson, Song of Iron (que inclusive tem análise aqui no site) e Tails of Iron, título da Odd Bug Studio que aportou recentemente aos consoles da força verde.

De espada e escudo na mão, será que Tails of Iron se destaca no gênero?

Em um universo de ratos, toupeiras e sapos que lutam por seus povos e reinos em uma ambientação que varia entre o medieval e o contemporâneo, Tails of Iron surpreende positivamente graças a detalhes diferenciados em aspectos comuns ao gênero, e é sobre isso que eu falo nessa análise.

A história de um rei

Tails of Iron provavelmente não tem esse nome à toa. Tail (calda ou rabo em inglês) é uma palavra homófona (mesma pronúncia para escritas diferentes) à tale (palavra inglesa que significa “conto”). O trocadilho no nome cai bem, tanto pelas caudas dos roedores que compõem o lado dos mocinhos da história quanto pela narrativa em formato de conto em que o enredo nos é apresentado.

A medida que o enredo avança, um narrador vai nos descrevendo os pensamentos e a história do próprio reinado, tal qual o narrador de um livro infantil em terceira pessoa. E o enredo que presenciamos e ajudamos a contar é a história de um ratinho que herda um reino que está sendo atacado e invadido. É a história de como este pequeno herói vai se aventurar por diversos ambientes para ajudar e proteger seus aldeões, trazendo prosperidade e segurança.

Apesar de não ser algo revolucionário, o fato de ter um narrador em uma escrita que desperta curiosidade faz toda a diferença para o título, pois é ela que retém a atenção do jogador, ao mesmo tempo que completa perfeitamente o clima de história de livro infantil que o jogo nos mostra. Aliás, é bom avisar que apesar da narrativa e artes tenderem para uma imagem de jogo infantil, a narrativa não é tão leve ao ponto de ser recomendada para todas as idades – a faixa etária é de 12 anos a cima – pois o enredo trabalha a morte ao estilo das histórias do Stephen King, de forma repentina. Tal fato só é aliviado graças ao narrador, que minimiza a situação, mas um olhar um pouco mais maduro consegue ver o peso dos acontecimentos apresentados.

Redgi, apesar de rei, ainda é um rato comum com anseios e sonhos.

É o narrador que nos faz rir ao descrever os pensamentos de Redgi, o personagem principal, e nos faz ter empatia pelo protagonista ao descrever seus anseios e pensamentos. É graças à presença do narrador que sentimos que controlamos, não um herói absoluto ou um paladino da justiça, mas uma pessoa comum, com falhas e problemas , mas que se importa com o próximo, e é isso que nos aproxima e nos faz ter até certa simpatia pelo herói roedor.

A presença desse narrador mostra a qualidade diferenciada da direção do jogo que permitiu que um recurso não diretamente ligado ao gameplay fosse introduzido para o benefício do próprio título. Mais do  que só permitir o uso da ideia, a impressão que passa é que desde o início a narrativa era um ponto muito importante para os desenvolvedores e acertaram em cheio ao fazer com que o clima, velocidade e ambientação fossem definidos por este elemento.

Tem seus méritos, mas nem tudo é lindo

A ambientação é rica em detalhes com diversos personagens e vários planos que ajudam a criar a sensação de profundidade. Contudo, a movimentação é muito mal trabalhada, ao ponto de passar a impressão de estarmos jogando em flash. 

A música é algo que sofre com algumas escolhas infelizes. Sendo mais claro: quando existe é muito boa, mas a escolha dos desenvolvedores foi de só haver música se houver alguma explicação para isso. Então, quando ouvimos alguma música é porque ou há um bardo ou algo que faça som por perto. É legal? É. Mas deixa um silêncio incômodo em diversos momentos. Felizmente, os momentos chaves sempre tem algo que justifique a existência da trilha sonora, o que empolga as melhores batalhas.

Durante esses diálogos, o som das vozes dos ratinhos é simulado por um som de flauta desafinada.

Algo que, a princípio, não incomoda mas se torna irritante com o decorrer do jogo é o uso do som de  flautas para simular os ratos falando. No início apenas ignoramos sua existência, mas após 3 ou 4 horas de jogo, aquele som agudo e e ligeiramente desafinado se torna um dos problemas mais irritantes do título.

Todos esses são problemas menores que não fazem de Tail of Iron um jogo ruim mas com certeza diminuem sua qualidade. Em termos de movimentação dos personagens, eu compreendo que pode haver questões financeiras que inviabilizam algo mais detalhado, mas nada justifica as escolhas com relação a trilha sonora.

Prepare-se para o combate

Em termos de gameplay, Tails of Iron é um jogo de ação fundamentado em customização das características do personagem. Existem diversas armaduras e armas que interferem diretamente na mecânica do jogo.

Por exemplo, armas e armaduras mais robustas são mais eficientes porém são mais pesadas. Usar muito peso para se proteger ou causar dano torna o jogador mais lento para se esquivar, os saltos se tornam mais curtos e a velocidade dos golpes diminui.

É importante dizer que nem uma das possibilidades é errada, vai variar de acordo com o estilo de jogador, e isso é um ponto muito bacana do  jogo que permite um nível moderado de adaptação.

Dentro dos equipamentos de defesa, há três tipos de armaduras, capacetes e escudos: Leves, médios e pesados. Normalmente, quanto maior for a proteção mais pesado é o equipamento. Além disso, alguns equipamentos de proteção são mais eficientes contra inimigos específicos, o que obriga uma mudança de equipamentos de acordo com a batalha a ser enfrentada.

Existem diversos tipos de armaduras. Mudá-las alteras características de gameplay.

As armas de combate corpo a corpo, são divididas em dois grupos: armas de uma mão (que podem ser usadas em conjunto com escudos), e armas de duas mãos (causam mais dano mas diminuem a proteção pois não podem ser usadas com escudos). Mesmo dentro desses grupos de armas, há subgrupos: espadas, machados e lanças, cada um com suas próprias características. Por exemplo, lanças vão mais longe, porém são mais lentas, machados causam mais dano, mas exigem um controle melhor do espaço e por aí vai.

Por fim, ainda há as armas de combates à distância, onde as armas são: Arcos, bestas e pistolas, nessa ordem de potência. A principal variação delas, são no dano causado e capacidade de munição que pode ser carregada. Arcos, dentro das armas de combate a distância, causam menos dano, mas possuem o maior numero de munição (20 ao todo) enquanto pistolas, que causam mais dano, só comportam 8 balas. 

É importante essa questão da munição pois em Tales of Iron, não há loot durante as batalhas. Para recuperar seus mantimentos você deve sobreviver aos combates, às vezes em hordas, para que consiga recuperar suas coisas. Essas características exigem atenção dentro das diversas batalhas com Boss que o título apresenta. Saber em que momento usar cada um dos seus recursos, de acordo com as diversas fases de cada chefe, faz parte da mecânica do jogo.

Falando em chefes, talvez esse seja o ponto em que a desenvolvedora perdeu um pouco a mão. Não que as batalhas sejam chatas, pelo contrário, são muito divertidas, mas tem chefes demais, não há espaço de meia hora, se quer, entre um boss e outro. Poderiam ter retirado uns 25% dele e acrescentar mais elementos de exploração, que o jogo ficaria lindo.

As Boss Battles de Tails of Iron são divertidas, mas passamos 70% do tempo de jogo nelas.

Falando em exploração, essa é a característica mais fraca do game. O jogo até apresenta um mapa, de navegação ruim, já que não permite zoom out, que pode levar alguns a crer que é um metroidvania, mas na real, Tail of Iron é um jogo bem linear. Dentro do jogo só há duas missões que envolvem exploração e elas são totalmente opcionais. O mapa e os inimigos só evoluem quando você completa o objetivo X ou mata o chefe Y e isso tira toda a vontade explorar e se perder, características fortes de um metroidvania. 

Isso não é demérito algum, só não pode haver essa expectativa para não criar decepções. É só ter em mente que estamos diante de um jogo de ação que as expectativas não são frustradas.

Vale a pena?

Tails of Iron é um título fundamentado em batalhas intensas. Como não há muita variação além disso, o game cansaria se não fosse o trabalho da narrativa, o que dá uma sobrevida ao título em termos de duração. No final da campanha, a impressão que fica é que o jogo se esticou um pouco mais do que deveria, mas não ao ponto de se tornar irritante.

O jogo com certeza vai divertir e prender a atenção de quem ousar se aventurar pelo game. Contudo, o fator replay dele é baixíssimo e dificilmente haverá motivos para rejogá-lo após o final.

Esta análise só foi possível graças a United Label, que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança. O jogo já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.

Análise – Tails of Iron
Conclusão
O jogo com certeza vai divertir e prender a atenção de quem ousar se aventurar pelo game. Contudo, o fator replay dele é baixíssimo e dificilmente haverá motivos para rejogá-lo após o final.
Gráficos
8
Som
7
Jogabilidade
9
Diversão
8
Prós
Combates divertidos e desafiadores
Enredo cativante
Contras
Trilha sonora ausente em diversas partes do game
A movimentação dos personagens parecem feitas em flash
8
Bom
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