Para aqueles de nós que nasceram nos anos 80/90 e presenciaram o apogeu da terceira e quarta geração de consoles, um gênero que certamente é marcado nas lembranças, é o beat’em Up. A variedade de títulos e a quantidade de fãs eram tão grandes que, mesmo se você não gostasse do nicho, era quase impossível não conhecer o gameplay de algum jogo do tipo.
O gênero que é, resumidamente, baseado em andar e acertar combos em dezenas de inimigos, ganhou seus seguidores se baseando na diversão e simplicidade. Infelizmente, a fórmula repetida desses títulos se esgotou com o passar dos anos, principalmente com a transição para o 3D, quando rapidamente foi quase que esquecida por completo.
Nos últimos anos, movido por sentimento de saudosismo e por vontade de estúdios menores, os beat’em Ups voltaram a chamar a nossa atenção, ainda que de forma reduzida quando comparado com o passado. Vários títulos pouco conhecidos como Fight N’ Rage e Streets of Fury, pavimentaram o caminho para o retorno de grandes franquias, como Street of Rage e Battletoads, em 2020, quando a indústria deu sinais de que estava pronta para acolher, novamente, aqueles que estavam órfãos gênero.
Em específico, Streets of Rage 4 e o novo jogo de Battletoads são dois exemplos que, reconhecidamente pela crítica e pelos jogadores, são bons games. Contudo, cometem alguns deslizes, sendo um deles a pouca inovação acrescentada ao gênero.
É nesse contexto, que 9 Monkeys of Shaolin se destaca trazendo não só um gameplay mais inovador, mas também uma arte bonita que foge dos traços cartunescos. O título consegue ser razoavelmente bom nos pontos fortes dos principais lançamentos beat’em up do ano, ao mesmo tempo que se destaca nos seus pontos fracos.
Enredo mais complexo, porém nem tanto.
Uma das características mais marcantes das cartilhas de Beat’em ups é o enredo simplório que normalmente só serve de desculpa para a pancadaria. Em 9 Monkeys of Shaolin, é exatamente igual. Contudo, o desenrolar da história tem pontos um pouco mais complexo, com direitos a reviravoltas, algumas esperadas outras nem tanto, com um pouco mais de profundidade em alguns personagens do que a média. O resultado final é positivo, trazendo muito mais uma sensação de série de ação/aventura do que de filme da sessão da tarde, comum ao gênero.
Na história, controlamos uma pescador que é o único sobrevivente de um ataque pirata, graças a interseção de um grupo de monges. Enquanto busca vingança, o convívio com monges traz aprimoramentos a sua técnica de luta, bem como uma evolução moral. Esta evolução moral não é tão profunda quanto a evolução das técnicas de combate. Porém, fundamentam de maneira acertiva o desenrolar da trama.
A direção artística diferenciada
O primeiro punch que 9 Monkeys of Shaolin nos dá é a sua direção artística. Cada fase, além de criativa, é bonita e diferente entre sí. Tudo, desde o cenário até o modelo dos personagens nos remete a filmes em stop motion. Pessoalmente, não consegui desvincular os gráficos do game ao filme Kubo e as cordas mágicas.
As exceções são os próprios monges, que parecem ser pouco trabalhados. Cada NPC tem um visual bastante detalhado, menos os personagens principais. Felizmente, a beleza dos cenários ofusca esse deslize.
A qualidade sonora do título porém, não é tão boa quanto seu desempenho visual. A dublagem, não se encaixa bem com os personagens, trazendo muito mais a sensação de G.I Joes de cabelo raspado do que de monges orientais.
Além disso, a trilha sonora não casa com o gameplay. Não é que seja ruim, pelo contrário, só que enquanto a trilha sonora remete ao “Clã das adagas voadoras” o gameplay nos tráz a sensação de “Tigre e o Dragão”.
Além do mais, não há transições de músicas para momentos críticos dentro da fase, e isso faz falta. Esse aspecto do áudio não atrapalha a jogatina, mas poderia ser bem melhor, e aumentar a imersão.
Gameplay fora da caixa
Normalmente, em um beat’em Up, a variedade de jogabilidade existe quando se troca os personagens. Em 9 Monkeys of Shaolin, essa variedade de personagens não existe, mesmo quando se joga em dupla, o personagem a mais é um monge genérico com a mesma jogabilidade.
Mesmo assim, o título inova usando o básico. Além da jornada trazer habilidades acrobáticas e “mágicas”, aumentando o leque de possibilidades de combos e defesa, o jogo traz uma mecânica de armas e itens, conquistados ao longo das fases que muda a própria forma de jogar.
O mais interessante, é que um item ou arma conquistado no fim do jogo, não é mais forte que um item conquistado no início. Ele só muda as possibilidades de estilo de luta.
Se uma arma recupera HP quando usa golpes especiais, outras causam envenenamento. Se um acessório recupera a barra de Qi, o outro potencializa os ataques e por aí vai. A melhor combinação desses apetrechos vai depender de jogador para jogador.
As técnicas aprendidas durante a jornada se baseia nos pontos de experiência aprendidos em cada fase. Uma fase revisitada, você pode revisitar qualquer uma sempre que quiser, traz um aprendizado menor do que uma nova, mas são excelentes para treinar, além acrescentam horas à jogatina.
Aliás, dominar as técnicas suas e do oponente é quase que obrigatório para os chefes. Principalmente, o último que sem dúvidas, é final boss mais difícil dos jogos do gênero, esse ano.
Fora isso, há algumas fases não obrigatórias, que são estimuladas a serem visitadas pelo sistema de evolução do personagem. Tudo isso, produz um gameplay que termina no momento que deve, sem causar a sensação de que foi muito curto, ou que passou do tempo ideal.
O design dos níveis também são muito criativos, e foi nesse quesito que o título, literalmente me surpreendeu. Não vou dar spoilers sobre o que esperar, mas em diversas vezes, fui pego de surpresa sobre a forma como determinadas fases foram projetadas. Sem dúvida, 9 monkeys of Shaolin tem muito a ensinar, nesse quesito, ao gênero.
Por fim, Vale a pena?
Para aqueles que gostam de filmes de arte marciais orientais ou para os fãs de beat’em Up, é um título obrigatório. O combate sempre baseado em uso de armas, ambientação chinesa, a motivações dos personagens, design level criativo, lutas desafiadoras. Tudo isso faz de 9 Monkeys of Shaolin o melhor título do gênero em muito tempo. Infelizmente, não consegue ser brilhante em todos os seus aspectos, mas consegue se destacar no gameplay e na diversão.
Esta análise só foi possível graças a Buka Entertainment, que gentilmente nos disponibilizou uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança.