Ano passado fiz a análise do F1 2020, você pode conferir aqui, deixando um pouco de lado minha paixão por automobilismo e principalmente por jogos de corrida tentei mostrar de forma parcial as qualidades e defeitos do jogo. Para minha surpresa o jogo tinha mais qualidades, entre elas a melhora substâncial da inclusão digital. Qualquer pessoa que tivesse o mínimo de apreço por corridas, mesmo sem entender muito, podia facilmente se divertir a bordo de uma Mercedez ou Ferrari, desbravando os mais icônicos circuitos do mundo, isso pra mim foi o grande diferencial.
Este ano temos um novo jogo de Fórmula 1, ainda produzido pela excelente Codemasters, porém agora sob a tutela da Electronic Arts, que aliás já teve os direitos da franquia entre os anos de 2000-2003. Como todos sabem a EA tem a mania de colocar aquele seu tempero próprio na receita dos outros, as vezes funciona, as vezes não, e este foi o meu principal receio quando a Codemasters foi adquirida pela EA no ano passado (2020). Após a guinada positiva na qualidade de produção dos jogos de Fórmula 1 pelas mãos da Codemasters, como ficaria o jogo retornando para a EA? será que a qualidade foi mantida? vamos descobrir junto.
O fator Electronic Arts
Antes de começar a falar sobre gráficos, desempenho, efeitos sonoros etc, precisamos falar sobre o “fator Electronic Arts”, afinal de contas ele está explícito no “principal modo de jogo” que é o Ponto de Frenagem. Como todos sabem, se você não sabe veja aqui, a Codemasters que é a desenvolvedora dos jogos de Fórmula 1 desde 2009, foi adquirida pela Electronic Arts no ano passado (2020). O negócio gerou muita apreensão por parte dos fãs da respeitada produtora de jogos de corrida do Reino Unido, convenhamos que o histórico da EA não é muito positivo quando o asunto é comprar outras produtoras e colocar o seu tempero nos seus produtos.
Acredito que um dos maiores temores seria que F1 2021 sofresse o efeito “Ultimate Team”, você que joga FIFA, Madden ou NHL (acredito que só eu jogo NHL) sabe do que estou falando. Apesar de a “loja de cosméticos” estar mais recheada nesta edição, com o jogador podendo adquirir novas pinturas para o seu carro, o efeito “Ultimate Team” felizmente não chegou até aqui. Por outro lado o fator EA bateu forte em algo que comumente acontece nos outros jogos e que de certa forma incomoda bastante, um elemento importante do jogo some para dar as caras novamente após alguns anos como uma “novidade”. Estou falando dos carros clássicos, adição importante presente nas quatro últimas edições do jogo contando inclusive com a icônica capa de Senna e Prost, pois bem eles não existem mais, estão fora do F1 2021, obrigado Electronic Arts.
A introdução da narrativa com o Ponto de Frenagem
Se você é fã de automobilismo e assina o Netflix com certeza já deve ter visto passar na sua timeline o seriado / documentário, Dirigir para viver! pois bem, ele muito provavelmente seja o principal responsável pela re-popularização da Fórmula 1, principalmente para os espectadores mais novos. A EA como não é boba, claramente se inspirou na série para melhorar (que já existia) o modo roteirizado do jogo, criando uma narrativa comum em seus jogos de esporte, eis que surge o Ponto de Frenagem.
Neste modo de jogo os novos pilotos precisam mostrar o seu real valor, para quem sabe um dia participar da categoria máxima do automobilismo. Nele, você assume o controle de Aiden Jackson, um piloto da Fórmula 2, categoria abaixo da Fórmula1. Pulando os spoilers, depois de um tempo você chega até a Fórmula 1 e tem a chance de pilotar em equipes medianas e/ou fracas como, Aston Martin, Williams, Alpha Tauri, Alfa Romeo ou a Haas. O modo Ponto de Frenagem se estende por longos 16 capítulos, culminando ao final da primeira temporada do jovem Aiden na Fórmula 1 e mais algumas revelações que você vai descobrir.
Assim como nos seus outros jogos onde este modo de jogo roterizado foi inserido, nós temos o lado bom e também o lado ruim. Vamos começar pelo lado ruim, assim como acontece no FIFA, e outros jogo com modo semelhante, sua performance não impacta na história, é como se você não estive no controle. Não importa se você chegar em primeiro ou sexto lugar, as chances vão ser sempre as mesmas na escolha da equipe. O lado bom é justamente o aspecto narrativo, que vai atrair novos fãs para conhecer o jogo, e quem sabe também acompanhar as corridas reais.
Um outro lado positivo do Ponto de Frenagem é que ele “acolhe” os novatos que sentem-se desconfortável ou um pouco perdidos, sem saber o que fazer quando caem de cara em uma corrida de fim de semana. Ele vai mostrando como funciona o carro, como melhorar os equipamentos e peças, é praticamente um tutorial em forma de filme interativo, super válido para quem está começando agora na franquia.
Modo carreira cooperativo é bem vindo
Na edição anterior tivemos a adição do modo Minha Equipe, que eu particularmente gostei bastante, era possível vivenciar o dia-a-dia de uma equipe de Fórmula 1 em duas frentes, como o dono da equipe, escolhendo o que seria melhorado no carro, escolhendo contratos etc, e também entrando no cockpit e acelerando fundo sem peso na consciência de bater o carro, porque afinal de contas você é o chefe!
Este modo teve uma pequena reformulação, com a interface ficando mais enxuta e intuitiva. Isso com certeza foi pensado para atrair fãs casuais que pretendem ir além do Ponto de Frenagem. Os treinos classificatórios também estão mais simplificados, agora temos apenas três opções que no final resultam nos mesmos pontos para melhorar o carro, ficou menos tedioso, mas sem perder a importância.
Porém a grande cereja do bolo é o modo Carreira Cooperativo, nele você tem exatamente tudo que o modo Minha Equipe oferece porém com a possibilidade de dividir a equipe com um corredor REAL, um amigo que começa na mesma equipe que você, porém em determinado momento ele pode seguir um rumo diferente. Confesso que sonhei com este modo de jogo desde o clássico World Circuit (Microprose – 1991), onde fazia campeonatos com os amigos Julien e Léo.
No momento estou participando do modo carreira cooperativo com o Rodrigo Gatti – Host do Multitap –, somos companheiros de equipe na icônica Williams. A performance não é a melhor, mas estamos evoluindo, as decisões conjuntas para melhoria do carro, competição para ver quem ganha mais pontos no fim de semana do e o nascimento da rivalidade é muito mais divertido. Na minha opinião é o ponto alto do jogo.
Não vou entrar em detalhe sobre os outros modos de jogo porque eles estão lá como é de praxe, Tomada de Tempo, Grand Prix (Fim de semana de corrida), Tela Divida, Eventos Agendados, Ligas e muito mais. A diversão não vai se problema por falta de modos de jogo, pode acreditar!
Customização de alto nível
Assim como os outros jogos da franquia, F1 2021 possui ainda mais possibilidades de customização, afinal de contas é um jogo da EA certo? Os diversos itens cosméticos vão desde pintura do carro até macacões, capacetes e gestos do piloto. Todas estas “perfumarias” podem ser debloqueadas correndo e ganhando Pitcoins (moeda do jogo), se você não tiver muita paciência também é possível adquirir pitcoins com dinheiro real, mas ai não tem graça.
Inclusive vale destacar que na versão deluxe do jogo, além dos Pitcoins adicionais na sua conta, o jogador também recebe uma coleção de ÍDOLOS do passado para fazer dupla no modo Minha Equipe. Uma vez ativados é possível contratá-los para fazer parte da sua equipe como segundo piloto, entre eles estão Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher, Nico Rosberg, David Coulthard, Jenson Button e Felipe Massa.
A ideia é boa porém mal executada, o interessante na minha opinião seria você utilizar os ídolos como o seu jogador e quem sabe reviver algum momento histórico da sua carreira. Imaginou recriar a batida histórica entre Senna e Prost no GP de Suzuka em 1990? demais não é mesmo, porém não é possível, os ídolos servem apenas de companheiro de equipe do modo carreira, uma pena.
Uma experiência quase real
Vamos entrar na parte que realmente interessa de um jogo de corrida, a jogabilidade! De imediato posso afirmar que, até o momento, nada chega próximo do que F1 2021 apresenta em autenticidade. O jogo oferece dois modos de exibição: Gráfico e Performance, no modo Gráfico temos a qualidade como foco, o jogo assume resolução 4k e taxas de 60 FPS constante, um verdadeiro deleite visual. Já no segundo modo, Performance, o jogo assume resolução em 1440 e incríveis 120 FPS, é como se você estivesse dentro do cockpit sentindo o capacete rasgando o vento a toda velocidade.
Como um entusiasta eu pessoalmente achei o modo performance melhor, vou explicar porque. Apesar da resolução 4k saltar aos olhos, nada se compara a experiência da velocidade em tempo real dos 120 fps, especialmente se você (assim como eu) utilizar um kit com volante e pedais, a imersão é muito maior. Taxas maiores permitem uma condução mais realista e natural, corrigir uma saída dianteira do carro é muito mais fácil, sem contar toda a experiência ao longo da corrida.
Como dito acima eu utilizo um kit de volante, pedais e suporte, que definitivamente gera uma sensação superior de pilotagem. Porém eu também testei o jogo no gamepad, e posso afirmar que ele dá conta do recado, transmitindo dentro dos limites um pouco da sensação da pilotagem. A experiência está garantida com os diversos auxílios de pilotagem, que ajudam os novatos a domar os carros nas mais diversas situações, incluindo o famoso “flashback”, mais conhecido como corretor de cagadas. Agora se você busca um desafio REAL, basta desligar tudo, elevar o nível da IA e sofrer com Max Verstappen te apurrinhando a corrida toda até você cometer um erro.
A experiência seria mais real se o jogo contasse com as novidades implementadas nesta temporada, como por exemplo o “sprint”, uma corrida mais curta durante o sábado que define o grid de largada do domingo, esta novidade aconteceu no GP de Silverstone (Inglaterra) neste ano.
Detalhes ganham vida na nova geração
Tecnicamente falando, F1 2021 é de longe o melhor simulador de corridas já feito para os videogames (e PC), o detalhamento visual é surpreendente, mesmo nos menores detalhes como os elementos externos que compõe o “circo da Fórmula 1” são reproduzidos com excelência. Seja pela qualidade da reconstrução digital das pistas, dos carros, o som dos motores, tudo evoluiu em F1 2021 e ainda tem muita lenha para queimar.
São estes detalhes que comprovam como a EA consegue melhorar algo que já era bom (F1 2020), mesmo estando ainda sobre os cuidados da Codemasters é possível ver aquele crivo mais alto de qualidade impresso nos jogos da EA.
A navegação mantêm o mesmo estilo simples e eficaz, com algumas melhorias na organização dos modos de jogo. Porém um ponto que merece cuidado é a navegação da comunicação com o box durante a corrida. O menu tem muitas opções, é uma lista com pelo menos 20 comandos, levando em consideração que naquele momento o foco principal é o traçado não tem como você ficar lendo e escolhendo uma opção da lista. Isso seria um bom ponto para a EA trabalhar no próximo ano, esta comunicação precisa ser mais simples e efetiva, sem desviar a atenção.
Afinal de contas, vale a pena?
Seria muita sacanagem dizer que não, F1 2021 é o melhor jogo de corrida do momento, porém na minha opinião, por ora, ele não vale o preço que é cobrado. O salto de qualidade da geração foi significativo, porém muita coisa foi requentada, outras estão ausentes e tantas outras foram removidas sem explicação alguma.
Quer um exemplo? o jogo não possui todas as pistas do calendário 2021 da Fórmula 1! Circuito icônicos como Imola e Portimão não estão presentes no jogo, devem ser adicionados, segundo a EA, como DLC gratuito em algum momento.
Mas o que realmente me deixou frustrado foi a remoção do carros clássicos, me desculpem o palavriado, mas é de foder! eu entendo que deve ter algum tipo de licença para utilização, e que ela tenha expirado, mas porra EA… o que custa molhar a mão dos caras e deixar os carros clássicos lá no cantinho especial deles! o que me deixa mais puto é que muito provavelmente ano que vem eles voltem como sendo o grande destaque do jogo sendo que podiam ser mantidos e a EA focar em adicionar outra novidade que realmente tivesse relevância.
Porém é preciso aceitar que o jogo tem mais pontos positivos do que negativos, seria imprudente não recomendar o jogo. Seja com a boa adição da narrativa do Ponto de Frenagem, ou com o “sumiço” dos carros clássicos e outros conteúdos, F1 2021 é sem sombra de dúvidas o melhor jogo de corrida que já pude experimentar, faltou pouco para ser perfeito.
Esta análise só foi possível graças a Electronic Arts, que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança. O jogo já está disponível para Xbox Series X|S e Xbox One e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.
