Análise – South of the Circle

Lançamento
03/08/2022
Desenvolvido por
State of Play
Publicado por
11 bit studios

Peter, o protagonista, é um acadêmico fascinado pelo tempo e que vive literalmente nas nuvens. No campo profissional ele é um professor de ciências climáticas da Universidade de Cambridge. A paixão pelo clima é mostrada constantemente durante toda a aventura, um tema considerado por muitos como poético e apaixonante, mas que fica limitado aos delírios do protagonista por causa das tensões políticas da Guerra Fria.

E é exatamente este clima tenso que torna South Of The Circle uma história tão única e envolvente. Com escolhas que sutilmente guiam a direção narrativa do jogo, mas sem alterá-la de maneira crítica (veremos isso mais para frente), a aventura pode ser finalizada em pouco menos de quatro horas de jogo.

A aventura começa de forma trágica, com Peter sentado no banco do passageiro ao lado do piloto inconsciente, em um avião que acabou de cair no meio de uma tundra gelada na Antártida. Com o avião sem condições de voar e a perna do piloto quebrada, nosso personagem precisa encontrar ajuda e também respostas de como resolver aquela situação.

Infelizmente os ventos gelados da Antártida estão distantes de ser o habitat natural de um acadêmico de Cambridge, inclusive esse ambiente é constantemente alternando com o passado, uma espécie de déjà vu constante. Essa mudança de lugar/tempo foi o recurso utilizado pela produtora para explicar o passado de Peter, mostrando-nos exatamente como ele chegou naquela situação.

Essa intercalação entre passado e presente é um recurso interessante para guiar a narrativa. Em determinado momento você estará guiando Peter através de uma tempestade gelada, enxergando apenas rajadas de vento e de repente você está em uma inusitada estação de trem na ensolarada Cambridge. Em outro oportunidade Peter está batendo na porta do posto avançado na Antártida, então quando ele entra na prédio é levado a sala do escritório de seu professor chefe. Apesar de ser um recurso já conhecido dos jogadores, esses teletransportes são uma ótima maneira de unir o passado e presente, tornar o ambiente do jogo mais interessante e explicativo.

Porém o gameplay não se resume apenas a isso, há momentos que você precisa explorar ambientes, encontrar objetos, sintonizar rádios etc. Nestes momentos é possível contemplar o estilo de arte colorido e minimalista do South Of The Circle, fazendo com que algumas cenas pareçam lindos pôsteres de viagem da década de 1930, uma direção criativa de alto nível.

Ao longo da vida de Peter, tanto no presente quanto no passado, você precisa realizar pequenas interações via QTE que guiam o rumo da narrativa, principalmente em conversas com outros personagens. Inclusive este modelo de conversação não muito usual utilizado pelos desenvolvedores da State Of Play é um dos pontos que não me agradaram. São uma espécie de ícones visuais que expressam as reações emocionais de Peter. As respostas precisam ser decididas rapidamente, caso contrário o jogo escolherá automaticamente uma para você e seguirá em frente, parecendo mais um filme interativo do que uma história narrativa ramificada.

South of the Circle tem um ponto fraco muito comum em jogos narrativos, é possível perceber claramente que existe apenas um único enredo que levará o jogador até o fim. Independente de quaisquer que sejam suas escolhas durante os diálogos, nada vai mudar até o final do jogo. Por outro lado, esse engessamento da narrativa serve para fixar a mensagem passada, no caso de South of the Circle é a crítica social da masculinidade tóxica e sexismo na época da Guerra Fria (ou será até hoje?).

Durante a história é possível conhecer melhor Peter, entender sua dificuldade em lidar com a masculinidade em nível pessoal e social. Criado na Grã-Bretanha dos anos 60, com um pai agressivo, e sofrendo bullying de seus colegas acadêmicos por causa de um interesse não muito comum (padrões climáticos), pode ser um problema. Na minha opinião a grande conquista de South of the Circle (além da ótima história), é exatamente encorajar o jogador a abraçar os sentimentos de Peter em uma época que, socialmente, as emoções dos homens eram reprimidas.

O mesmo estilo narrativo é aplicado com a amiga de Peter (eventual interesse amoroso) Clara, uma jovem que assim como Peter trabalha como pesquisadora em Cambridge. Clara enfrenta muitos preconceitos sexistas institucionais, e há um sentimento de companheirismo entre os dois, pois ambos compartilham o sonho de ser reconhecidos naquilo que amam fazer.

Sem sombra de dúvidas o ponto alto do jogo é a história, tudo isso que vimos até agora é sustentado por uma sensação iminente da Guerra Fria, uma época em que qualquer comportamento estranho era ligado à paranóia de ser um espião soviético. E todos estes ingredientes vão se juntando, acumulando e construindo um grande drama até o fim do jogo.

Conclusão

Tecnicamente o jogo entrega gráficos simples porém funcionais, uma trilha sonora que consegue manter o clima dramático e uma jogabilidade que alterna momentos bons e ruins. Se você curte uma boa história na época da Guerra Fria, com todas suas nuances, eu recomendo o jogo. Mesmo que os momentos finais não entreguem o mesmo impacto emocional construído desde o começo. Afinal de contas uma boa história nem sempre é sobre o destino, mas sim sobre a jornada.

Esta análise só foi possível graças a 11 Bit Studios, que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança. O jogo já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.

Análise – South of the Circle
Conclusão
South of the Circle tem como ponto forte a história, com ótimos momentos dramáticos, mas que no final acaba frustrando o jogador. Os gráficos e sons são competentes, mas a movimentação falha em alguns momentos.
Gráficos
7
Som
7
Jogabilidade
6
Diversão
8
Prós
Ótima história, alternando momentos dramáticos
Época da Guerra Fria e a paranóia dos espiões russos
Contras
Movimentação falha na movimentação e exploração
Diálogos com elementos visuais em QTE podem confundir
O final pode não agradar os mais românticos
7
Bom
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