As histórias dos livros da série Redwall não são muito conhecidos no Brasil, porém em grande parte da Europa eles foram responsáveis pela infância de muitas crianças.
Mais do que simples contos infantis, Redwall é uma série imaginativa, que faz as crianças literalmente viajarem na história, deixando a imaginação correr sem limites.
A Soma Games foi o estúdio que recebeu a difícil missão de transportar toda essa magia das obras do escritor inglês Brian Jacques (falecido em fevereiro de 2011) em um jogo eletrônico. O jogo ganhou vida inicialmente por meio do Early Access, que nada mais era do que uma simples amostra do que estava por vir. No entanto, desde então muita coisa mudou e agora finalmente temos o jogo completo lançado, The Lost Legends of Redwall: The Scout, que embora não corresponda às expectativas contadas nos livros, tem carisma suficiente para torná-lo um must play para os fãs do Redwall.
Talvez a particularidade mais impressionante em The Scout seja como a história do jogo parece se encaixar perfeitamente no universo de Brian Jacques. Temos aqui uma narrativa original criada especificamente para o jogo que acontece seis meses antes dos eventos de Redwall no pequeno vilarejo de Lilygrove.
A história é focada em dois personagens, Liam e Sophia, dois jovens ratinhos membros emergentes da Lilygrove Scout Corps. Após completar uma série de tarefas, os novos graduados contemplam a cerimônia de formatura que é brevemente interrompida pelo ataque de um grupo de ratos saqueadores comandados pelo maligno Cluny the Scourge. A partir destes eventos, Liam e Sophia vão colocar em prática seu treinamento, utilizando suas novas habilidades para ajudar a salvar sua aldeia, acendendo a luz do farol.
O início do gameplay é bem convincente, nós temos a real sensação de estar dentro das páginas de um livro de Redwall. Tudo, desde os diálogos até a direção de arte, tudo se assemelha ao material original das obras de Brian Jacques. Até mesmo a dublagem das cenas se encaixa muito bem perante as circunstâncias e acontecimentos. Os personagens utilizam diversos tipos de sotaques, enfatizando a natureza eclética da obra. Afinal de contas, Redwall é uma série de livros baseada em grandes aventuras e uma enorme variedade de personagens.
Porém onde o jogo deveria brilhar é onde ele realmente começa a tropeçar. O tutorial é apresentado por meio de um conjunto de tarefas onde Liam e Sophia devem provar seu valor para o Corpo de Escoteiros de Lilygrove, um grupo que representa os ratinhos mais corajosos de Lilygrove. Assim como outros jogos, a ideia principal é apresentar a mecânica do jogo (que são de natureza básica), porém as tarefas demandam tempo demais para um simples tutorial, tornando-se algo extremamente enfadonho.
Após a cena do ataque a Lilygrove o jogo finalmente fará você usar suas habilidades para escapar dos ratos inimigos. Neste momento a jogabilidade deveria ser mais fluída e precisa, já que você precisará se movimentar sabiamente afim de evitar a detecção por parte dos inimigos. Porém frustrantemente, não apenas este momento como os demais que virão a seguir, a batalha constante com a câmera do jogo colocará a jogabilidade por muitas vezes em cheque.
Comandos simples como agachar ou espiar pela esquina não funcionam graças a problemática câmera, que além de adentrar as paredes, por muitas vezes apontará o caminho oposto. Por inúmeras vezes tentei utilizar o estilingue para alertar o guarda da minha presença em outro local e a câmera simplesmente não obedecia e apontava em outra direção revelando nossa posição no cenário e consequentemente a “morte” no jogo.
A caminhada até o farol é árdua, porém recompensadora. Durante o caminho você irá se deparar com diversos habitantes da aldeia que precisam de resgate, salvando-os você acumula pontos que ao final da missão possibilitam a abertura de novos diálogos. Esta talvez seja a parte mais recompensadora do jogo, pois muito do folclore presente nas obras originais é revelado aos novatos em Redwall.
Em certa parte do jogo somos apresentados a uma nova mecânica de perseguição, o que é bom para a mudança de ritmo, variação de jogabilidade etc, porém o que vemos novamente é um amontoado de frustrações. Assim como no modo stealth, ser capturado indica o fim do jogo e reinicio da cena e na perseguição não é diferente. No entanto, o problema é que a mecânica de detecção é mais solta do que prego na areia. Não existe uma distância segura para se manter longe do inimigo, aparentemente se o jogo decidir que você está muito próximo é fim de jogo, sem choro.
Estes são apenas alguns dos inúmeros problemas técnicos do jogo, no decorrer da análise nos deparamos com os personagens atravessando objetos, como árvores ou paredes. As animações, algumas vezes, ocorrem em momentos errados, do nada o seu personagem começa a escalar paredes que já ficaram para trás ou inexistentes. É bem verdade que estes problemas técnicos não ocorrem com frequência, impossibilitando o avanço do jogo, mas prejudicam a experiência de um modo geral.
Porém felizmente a atmosfera do jogo compensa grande parte dos problemas técnicos. A Soma Games fez um trabalho memorável na construção visual do universo de Redwall. A direção de arte transborda vida, carisma, trazendo a tona uma sensação de nostalgia incrivelmente mágica. A dedicação nos detalhes da produção visual por parte da Soma Games rendeu inclusive uma singela homenagem a Brian Jacques no interior de uma capela dentro do jogo. A trilha sonora também é muito boa e acrescenta ainda mais valor a atmosfera do jogo.
Agradecemos a Soma Games que disponibilizou uma cópia de avaliação para esta análise.
The Lost Legends of Redwall – The Scout está disponível para PC (Steam), Playstation 4 e Xbox One.
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