Análise: The Artful Escape

LANÇAMENTO
09/09/2021
DESENVOLVIDO POR
Beethoven & Dinosaur
PUBLICADO POR
Annapurna Interactive

Um game sobre aceitação, e autoconhecimento.

Na real, a vida nem sempre é do jeito que nós queremos, por muitas vezes, nos sentimos presos em um grande ciclo de expectativas geralmente lapidadas por outras pessoas. Seja uma mãe, que gostaria de ver o filho em uma carreira bem remunerada, de um pai que espelha nele a sua figura jovem, de familiares e amigos, que te jogam uma carga de expectativas em cima de um talento, ou até da própria sociedade, que pode te enxergar de uma maneira que não seja o que sua “alma” almeja.

Quando terminei The Artful Escape, entendi que o jogo não é sobre viajar planetas exóticos tocando uma guitarra mágica, mas sim uma história sobre expectativas, autoconhecimento e principalmente sobre insegurança e aceitação. E isso não deve soar como uma coisa chata, pois aqui toda essa história é maquiada sob uma atmosfera colorida e fantástica, em um dos jogos mais coloridos e viajantes que você jogará em 2021.

Ouçam o som da glória, alienígenas!

Shine on crazy diamond

A primeira coisa que você vai perceber ao jogar The Artful Escape, é sua atmosfera inicialmente calma. Você é Francis Vendetti, um jovem músico nas vésperas de um festival em uma pequena cidadezinha do interior dos Estados Unidos, onde todos o aguardam para interpretar as músicas do seu tio famoso, o lendário Johnson Vendetti (inspirado em Bob Dylan certamente), uma lenda do folk, que morreu anos atrás e se tornou uma espécie de lenda da música no país.

O começo do jogo mostra a frustação de Francis, que sente o peso do mundo em suas costas ao ter que representar o seu tio, ao mesmo tempo que lida com sua vontade de ser um rockstar virtuoso, com solos de guitarras arrasadores com efeitos de luzes e ficção científica ao fundo.

E é aí que começa o jogo, uma noite antes do evento, Francis recebe a visita de um alienígena e de um músico lendário “pica das galáxias”, que leva Francis para uma viagem interdimensional para os confins do universo, onde alienígenas clamam por um novo ídolo que dominará as estrelas.

Deslizar no cosmos é gostoso demais!

Joe Satriani cruza com Pink Floyd, que cruza com David Bowie e seu Ziggy Stardust

É interessante falar um pouco sobre o visual e a música do game, eles são de fato um ponto muito positivo do jogo, os planetas com o qual vocês explora são absolutamente lindos, as explosões de cores, de tons e escalas cromáticas, ultrapassam o limite do que a maioria dos games já apresentaram até então, você viajará por um punhado de biomas variados onde a natureza exuberante pula na frente do personagem, que muitas vezes está no chão, mas em outras voa pelas estrelas, por planetas, constelações e nebulosas.

E a qualidade gráfica não fica limitada aos cenários alienígenas, o cenário já impressiona pela qualidade nos primeiros momentos de jogo, com uma bela representação em 2D de uma cidade montanhosa no Colorado. É de encher os olhos.

A música também é um elemento importante do jogo, você passará boa parte do tempo com o X apertado, que é o botão onde o Francis segura e toca sua guitarra. Guiando assim o jogador pelos cenários incríveis do game. Esses solos de guitarra, combinados com a música de fundo, criam um ambiente perfeito de contemplação, é bom dar mérito ao som do game, composta por Johnny Galvatron, da banda australiana The Galvatrons.

Essa mistura lisérgica de cores e sons com pegada de ficção científica é inspiradíssima em grandes artistas do rock progressivo e da música pop, é impossível não se lembrar dos solos de David Gilmour, do visual extravagante do Prince ou da pegada alienígena sci-fi do David Bowie, o que deixa The Artful Escape com um gostinho ainda melhor.

Olha o passarinho!

Uma viagem relaxante

The Artful Escape não é um game desafiador, estamos em um game simples, com progressão lateral e praticamente sem nenhum tipo de punição por erros. No game você deverá pegar sua guitarra e curtir toda a sequência de luzes, imagens e sons. A proposta do jogo, é que você se divirta com a absurda história da ascensão espacial de Francis, viajando por planetas alienígenas, trocando solos com seres gigantes e atiçando paisagens vivas com o som da sua guitarra.

Além da progressão lateral, outra mecânica comum envolve apertar as notas na sequência correta, como naqueles joguinhos GENIUS sabe? Ainda sim não espere nada desafiador, a ordem aqui é curtir o passeio.

Esse tipo de escolha, por uma jogabilidade mais contemplativa, não é bem um caminho inovador ou errado, já vimos jogos que fizeram isso com maestria como Journey e Abzu, ainda sim, creio que isso possa afastar jogadores ávidos por desafios, em contrapartida, quem curte conquistas fáceis, pode simplesmente ver essa questão como uma qualidade, e é inegável que a intenção dos desenvolvedores é que as pessoas avançassem no jogo o mais longe possível, até para valorizar o trabalho de arte do jogo do começo ao fim.

E isso implica em outro fator, que é o replay do jogo. É possível terminar ele em menos de 4 horas, e dificilmente você jogará novamente, pois não existe muito o que descobrir se você aproveitou cada pedaço do jogo na primeira vez.

Acho legal ressaltar também a clara intenção dos desenvolvedores de entregar alguns nuances do jogo a conta-gotas, o próprio sistema de customização do personagem só acontece do meio pra frente, o que mostra que intenção aqui foi dar ao jogador um contexto em cima de tudo que você faz no jogo, e isso acontece direto, apresentando cenários e personagens de forma bem tranquila, sem se preocupar em introduzir todos os recursos logo de cara.

Inveje-me Slash, November Rain é passado!

Sobre a polêmica dos pronomes neutros

Resumidamente, ouve um murmurinho nas redes pela opção dos tradutores brasileiros por usar pronomes neutros no jogo.

Tirando o foco de toda a questão política envolvida nessa escolha, acredito que essa aplicação ortográfica ficou realmente um pouco fora de contexto, o que acarretou em alguns momentos estranhos de narrativa. Por exemplo, personagens usando o gênero binário no começo do jogo e depois não mais, dificultando saber sobre qual personagem a narrativa estava se referindo. São casos raros, mas mostram que não houve um cuidado de tradução nesse quesito. Inclusão e acessibilidade são importantes, mas feito de maneira errada pode mais confundir do que ajudar. Ainda sim, nada que tire o mérito do jogo ou atrapalhe demais o entendimento da história.

Uma experiência a ser vivida

Voltando ao meu parágrafo inicial, gosto de falar que  ao longo da jornada, Francis Vendetti dialoga com outros personagens que guiam ele para algo mais introspectivo, mais pessoal. Estamos falando de um personagem inseguro, frustrado e que precisa de uma ajuda cósmica para entender o que ele realmente quer de sua vida, e não o que os outros esperam dele, e isso complementa toda a riqueza artística do jogo, ela dá sentido ao que o game quer contar, e emociona demais no final.

Por fim, vou guardar este game com carinho na mente, pois ele se completa trazendo uma história simples e emocionante, combinada com uma coisa que eu amo, que é o som maravilhoso que moldou toda uma geração nos anos 70 e 80.

Apenas jogue!


Esta analise só foi possível graças ao cada vez melhor catálogo de jogos do Gamepass, obrigado Gamepass!

Análise: The Artful Escape
Conclusão
Uma viagem cósmica, mas introspectiva. The Arful Escape é um jogo relaxante, lindo e que merece ser lembrado em nossos corações.
Gráficos
10
Som
10
Jogabilidade
9
Diversão
10
Prós
Visuais estonteantes, coloridos e maravilhosos
História simples e bem desenvolvida
Ótima trilha musical
Contras
Bem curtinho, queria mais!
9.5
Viciante
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