Análise – Fight N’ Rage

Os jogos do estilo briga de rua desapareceram com o passar dos anos. Será que o cenário indie poderia resgatar esse estilo e modernizá-lo a ponto de atrair novos jogadores?

Desenvolvedor
SebaGamesDev
Plataforma
Xbox One
Onde comprar

Quando criança eu era fascinado por jogos do gênero beat em’ up. Eu passava horas e horas na frente dos arcades, observando como os melhores jogadores passavam as fases. Muitas foram as aventuras que vivi jogando Final Fight, Cadillacs and Dinosaurs, Double Dragon, Tartarugas Ninjas e outros mais.

O tempo passou e esse estilo de game não conseguiu acompanhar a evolução e sumiu aos poucos do mercado. Claro que com a vinda dos jogos em 3D algumas empresas lançaram títulos desse gênero, mas não chegaram perto do que foi a era de ouro dos beat em’ up.

Anos passaram e o cenário indie surgiu. Com ele ideias inovadoras apareceram e também antigas, que por sua vez, voltaram modernizadas. Para a nossa alegria, alguns desenvolvedores resolveram apostar na nostalgia e lançaram jogos com esse estilo tão amado pelos fãs. Esse é o caso do SebaGamesDev, um estúdio localizado no Uruguai, que lançou o Fight N’ Rage. Um jogo no estilo beat em’ up, feito em pixel art como os antigos, mas com uma pegada mais moderna. Passei horas jogando ele e hoje quero compartilhar com vocês a minha experiência.

Que tal um quebra pescoço?

A história e os personagens

Em um futuro distante, a Terra foi devastada por mutantes que assumiram o controle após um evento catastrófico, conhecido como o Grande Pulso. Esse pulso eletromagnético foi capaz de pôr fim a toda tecnologia no planeta. Agora os humanos são escravizados pelos mutantes, liderados por The Boss. Nem tudo está perdido, dois humanos e um mutante rebelde estão dispostos a lutar e acabar com essa loucura.

Os beat em’ up nunca tiveram histórias complexas ou mirabolantes. Afinal de contas, o que importava mesmo era a porradaria. Mas o que me chamou a atenção no Fight N’ Rage foi a possibilidade de múltiplos finais. No menu é possível ver uma tabela, que será preenchida na medida que fechamos o game. Ao todo temos 56 finais diferentes, para consegui-los será necessário uma combinação de coisas: depende do nível jogado (fácil, normal, difícil e muito difícil), da escolha dos personagens ou combinação deles, e também da escolha das rotas. Eu fiz 4 finais até o momento e em todos os casos o desfecho da história tomou um rumo diferente. No game podemos escolher entre três personagens:

  • Gal: especialista em sua própria arte marcial derivada do kick-boxing. Embora seus ataques não tenham um longo alcance, sua velocidade e agilidade não tem igual e sua técnica e resistência também são muito boas. Ela é capaz de evitar quase todos os ataques, uma habilidade que é útil ao enfrentar vários inimigos.
  • Ricardo: um minotauro ativista dos direitos humanos e um lutador poderoso. Ele não é muito rápido e sua técnica não é tão boa quanto a de seus companheiros. Mas ele tem um alcance bem longo e sua força e resistência são incríveis. Ele é capaz de destruir qualquer inimigo em tempo recorde.
  • F. Norris: um ninja em fuga cujo passado é um mistério. Ele é o único que dominou o estilo de ninjutsu conhecido como “a técnica proibida”. Embora possa ser muito frágil em comparação com Gal ou Ricardo, ele tem uma grande combinação de alcance, potência e velocidade, além de uma técnica incrível que (quando dominada) pode assumir o controle de qualquer situação.
Um ninja, uma lutadora e um mutante.

Eu joguei com os três, embora a minha preferência seja a Gal. Cada um possui uma forma de luta única e a combinação de combos é fantástico. Sim, o estúdio foi competente em construir um gameplay que flui naturalmente na medida que jogamos. Todos os golpes, especiais e combinações estão a disposição do jogador logo de cara. Cabe a ele descobrir todas as combinações possíveis que o game oferece. 

Isso, se o jogador não liberou o modo de treinamento. Porque é através desse modo que aprenderemos uma série de mecânicas, dentre elas, destaco o famoso parry. Pra quem não sabe, é a habilidade de se defender de um ataque, desde que ele seja executado no tempo certo. Com o parry podemos nos defender de um ataque e em seguida executar uma sequência de combos devastadora. Além dos golpes, cada personagem tem um especial único que poderá ser executado no chão ou no ar.

Pixels, músicas e explosões

Eu sou um grande fã de jogos feitos em pixel art e o Fight N’ Rage não decepciona nesse quesito. A desenvolvedora optou também por oferecer um modo gráfico que simula as antigas telas dos arcades. Eu particularmente preferi jogar sem, porque esse modo me incomodou um pouco durante a jogatina. Mas cabe a você escolher o seu modo preferido.

Os sprites usados nos personagens foram bem feitos e são ricos em detalhes. Há uma variedade considerável de inimigos e chefes. Um detalhe que não passará despercebidos por muitos é a forma como as mulheres são retratadas no game, talvez isso incomode um pouco as jogadoras. Outro ponto importante, que quem jogou muito arcade perceberá, são as homenagens, discretas ou não, a outros games da era de ouro dos arcades. 

Os cenários foram bem construídos e possuem um bom level design. Há algumas situações que me incomodaram (elevador e jangada), que poderiam ter um melhor refinamento, mas acredito que foram criados dessa forma para aumentar o nível de dificuldade. Quem jogou sabe do que eu estou falando. (Risos)

A parte sonora é outro ponto forte do game. As músicas foram criadas pelo compositor Gonzalo Varela. Elas se encaixam muito bem na proposta do game e não são enjoativas. As vozes dos personagens, os sons ambientes e as músicas se mesclam de uma forma magistral. Você consegue perceber individualmente cada uma delas, mas também consegue perceber como o todo funciona de uma forma harmoniosa.

Jogabilidade moderna e seus modos extras

Os controles são extremamente precisos. Além disso os ataques são concatenados de uma forma muito natural e quando você menos esperar, estará dominando todas as habilidades do personagem. Além da variedade de golpes, temos uma barra de SP, que fica localizada abaixo da barra de vida. Quando ela está cheia podemos executar os especiais, caso ela esteja vazia, poderemos executar os especiais também, porém perderemos uma parte da nossa energia vital. Essa barra se enche automaticamente depois de um tempo.

O jogo possui outros modos, que só ficarão acessíveis se comprarmos eles. Espere, não se irrite, o dinheiro usado no jogo são moedas de ouro. Você ganha essas moedas na medida que avança na história ou até mesmo quando perde. Esses modos aumentam em muito o fator replay. Eu destravei vários, falta apenas um, que custa um pouco mais que os demais. Pra mim esse é o ponto negativo. Tantos os modos, como as roupas e os personagens extras possuem um custo alto de moedas, sendo necessário jogar várias e várias vezes para comprar todos.

Dois modos extras me chamaram a atenção: modo combate e modo com aliado automático. O primeiro é uma espécie de luta dentro de um ringue, no melhor estilo Street Fighter, tanto nele, como em outros modos, você poderá escolher entre os heróis ou  os vilões (desde que você tenha comprado eles com moedas de ouro).

O modo com aliado automático é maravilhoso. O jogo permite modo cooperativo com tela dividida, mas caso você não tenha um segundo controle, poderá jogar junto com a CPU. E a inteligência artificial não deixa a desejar. Dois dos finais que fiz foi usando esse modo, recomendo muito que joguem nesse modo.

Veredito Final

O Fight N’ Rage é um dos melhores Beat em’ Up que joguei nos últimos anos. Ele possui personagens cativantes, excelente jogabilidade e uma ótima direção de arte. Me espanta que o game tenha sido desenvolvido por apenas uma pessoa. Isso mesmo, o desenvolvedor Sebastian García descreve o estúdio como o de um homem só. O resultado final é de saltar os olhos e me leva a acreditar cada vez mais no cenário indie de jogos.

Vai uma mãozinha aí?

O título está disponível em diversas plataformas, em especial no Xbox One. Atualmente o jogo custa R$ 74,95 (data em que escrevi o texto) na Microsoft Store. Você quer reviver a era de ouro dos arcades ou está afim de conhecer um bom jogo de briga de rua, Fight N’ Rage é a escolha certa.

Esta análise só foi possível graças a SebaGamesDev que gentilmente nos disponibilizou uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento e confiança.

Análise – Fight N’ Rage
Conclusão
Fight N' Rage é um belo exemplo de como é possível lançar um bom jogo com um orçamento baixo e com uma equipe pequena. Há muito tempo que não me divirto tanto com um Beat em' Up. Recomendadíssimo.
Gráficos
9
Som
8.5
Jogabilidade
10
Diversão
9
Prós
Jogabilidade moderna e controles precisos
Rotas alternativas, que aumentam o fator replay
Combos e mais combos.
Contras
O preço dos extras é muito alto, sendo necessário jogar muitas vezes para adquirir todos os itens
A dificuldade no modo normal pode assustar jogadores iniciantes
9.1

Se inscrever
Notificar de
guest

2 Comentários
Mais antigo
Mais recente Mais votado
Feedbacks embutidos
Exibir todos os comentários
Raphael

Review bem elaborado e elucidativo, estilo de gameplay que emerge o sentimento nostálgico da quarta geração que há muito eu jogava.
Porém achei caro, esperarei alguma promoção para conhecer melhor.