É difícil não começar um review de um jogo como este sem antes não falar um pouquinho sobre a produtora, a RARE, e a enorme importância que este estúdio tem na indústria de games. O estúdio sempre se destacou não só pela competência, mas também pela característica de sempre entregar trabalhos visualmente e tecnicamente impressionantes, principalmente na época de sua parceria com a Nintendo, que rendeu jogos que “estupravam” o Super Nintendo, quem não lembra da qualidade gráfica suprema de Killer Instinct ou do primor técnico da série Donkey Kong Country?
Mas não é só de gráficos que a Rare vivia, e outra grande característica da empresa era a de entregar jogos com multiplayer memorável, quem não passou as tardes depois da escola jogando GoldenEye 007 com os amigos ou jogando a ótima campanha coop de Perfect Dark? De fato, a Rare estava em nossas lembranças.
Só que algo mudou depois que a empresa foi adquirida pela Microsoft. Com a reestruturação, as coisas começaram a ficar um pouco mais “turbulentas”, e a RARE viveu assim de altos e baixos, produzindo alguns jogos interessantes, como Viva Piñata e Banjo-Kazooie: Nuts & Bolts, mas também dedicando tempo demais ao Kinect, com a série Kinect Adventures, o que para muitos era um talento desperdiçado.
Por estes motivos, Sea of Thieves era ainda mais esperado, já que o jogo é uma prova de fogo para o futuro da companhia e a Microsoft não parece estar disposta a manter estúdios que não ofereçam produtos lucrativos e bem resolvidos.
E então, vamos falar do jogo?
Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós!
Como diria um filósofo famoso, a liberdade é um anseio, e esse anseio se torna uma realidade logo no começo do jogo, onde somos jogados em um novo mundo sem praticamente nenhuma informação, e os produtores fizeram questão de não segurar o jogador pela mão. O game não tem tutorial, não tem dicas, não te avisa onde você está nem o que deve fazer, o jogador deve descobrir tudo, afinal este é um jogo de barcos e ilhas, e nada mais sensato que permitir a descoberta, de todas as maneiras.
httpss://www.youtube.com/watch?v=r5JIBaasuE8
Após um choque inicial, é hora de começar a entender o jogo, você tem basicamente três coisas a se fazer de início – 1: pegar provisões (que se baseiam apenas em bananas, balas de canhões e pedaços de madeira) 2: Escolher a sua missão, em umas das três tendas disponíveis e iniciar sua jornada, levantando as velas e puxando a âncora, e é aí que a diversão começa de verdade.
Detalhe importante, Sea of Thieves é um jogo inteiramente multiplayer, então, caso queira uma experiência adequada, recomendo muito que você jogue com um ou mais amigos, formando assim a sua tripulação pirata. Esta é a alma do jogo, e jogar fora deste perfil praticamente mata boa parte da diversão do jogo.
Diversão e beleza em alto-mar
Sem sombra de dúvidas, o grande diferencial do jogo está nas mecânicas em alto-mar e da interação dos piratas com o seu meio ambiente, é preciso uma certa prática para manobrar o barco de forma correta, manipulando as velas contra a direção do vento e usando a âncora para manobras mais complexas. É preciso ficar de olho no mapa e na bússola, já que o game não tem aquele clássico mapa no canto da tela, obrigando os jogadores a trabalharem em conjunto para chegar aos objetivos. Navegar em Sea of Thieves é prazeroso e fica longe de ser uma atividade chata, é preciso se preocupar não só com o casco do barco, como também com as variações climáticas, que afetam o peso da dirigibilidade da navegação e a intensidade das ondas do mar.
E por falar em mar, que mar é esse? O jogo tem talvez o mar mais incrível já criado em um videogame. As ondas se movimentam de forma extremamente realista e orgânica, e a variação de ondas , que ficam maiores em alto mar e mais calmas nas costas, é de cair o queixo. É interessante reparar que as ondas se movimentam de acordo com a posição do vento e a profundidade do local, acredito que os desenvolvedores pesquisaram a fundo o funcionamento das ondas e criaram um modelo reduzido do sistema de marés totalmente adequado para o jogo, um aspecto técnico impressionante. E vale ressaltar que não é só o mar que brilha em termos de gráficos, o jogo também apresenta um sistema climático impressionante, tanto em iluminação quanto em detalhes. É possível ver nuvens carregadas no fundo do cenário, o sol batendo no mar e no barco, afetando de forma muito realista o cenário do jogo e a lua, linda e luminosa, fazendo com que Sea of Thieves seja um dos jogos mais interessantes para se tirar screenshots.
Sobre os piratas, é legal perceber a boa quantidade de ações que são possíveis com seu pirata virtual. Você pode dançar, tocar instrumentos com seus amigos, dormir, ficar bêbado, acenar para outros jogadores, enfim, essas opções em um jogo solitário parecem não fazer sentido, mas quando se joga com amigos e se encontra inimigos reais, isso abre um leque pra uma grande gama de situações divertidas, e Sea of Thieves é brilhante nisso.
Vale citar também a competente edição de som, o barulho das madeiras do barco se contorcendo, as ondas quebrando e o clima de mistério ao chegar em um ilha, é um trabalho minucioso e com muita alma, mostrando que o DNA da Rare está vivo,, diante de nossos olhos e ouvidos.
Remando contra a maré
Sea of Thieves é um jogo de mundo aberto sem um objetivo claro, você basicamente deve acumular dinheiro para comprar coisas e subir de nível para se tornar um pirata lendário. Para isso, o jogo te oferece três variações de missões (coleta, captura de caveiras e entrega de mercadoria). Parece pouco, e realmente é, o que deixa claro que a grande história do jogo é você que faz.
Ao começar, você é jogado em um posto de coleta aleatório, e o jogo também coloca outros jogadores em lugares distintos, o que ocasionalmente gera encontros na maioria das vezes não amigáveis, já que os outros jogadores tem a tendência natural de te saquear. Essa sensação de perigo constante por conta dos outros jogadores é o grande diferencial do jogo, e o motivo de você sempre se manter preparado para o pior. Entenda, existem outras ameaças como caveiras, cobras, tubarões e o temível Kraken, um monstro gigante que pode te atormentar aleatoriamente, mas nada se compara com a fúria dos outros piratas humanos.
A mecânica de imprevisibilidade é o fator que mais cativa no jogo, cada seção é uma história diferente, jogando com amigos ou sozinho, a variedade dos acontecimentos é o que faz o jogo ser tão celebrado em transmissões online. Tudo pode acontecer com você, por exemplo, você pode fazer uma jornada perfeita e no final ser surpreendido por uma embarcação super armada e perder todo o seu ouro, ou até ser saqueado sorrateiramente enquanto vasculha uma ilha qualquer, ou ser encurralado por tubarões ao explorar um naufrágio qualquer, as possibilidades são imensas.
Sonífera ilha
Mas nem tudo são flores neste mar de rosas, apesar da Rare ter criado um conceito incrível, por vezes alguns detalhes poderiam ter sido melhor explorados. As ilhas do jogo são no geral muito parecidas, variando apenas a posição das rochas e o tamanho, não oferecendo ao jogador um senso de descoberta tão gratificante. Com certeza, se as ilhas tivessem uma rota mais complexa, com desafios de plataforma mais interessantes e com cenários mais variados, ou seja, se fossem verdadeiros dungeons, o jogo ganharia ainda mais robustez e poderia ser lembrando não só pela diversão multiplayer, como também como um grande game de exploração.
Outra queixa é sobre o polêmico sistema de progressão do jogo, de fato ele não foi muito bem desenvolvido, e subir de nível e acumular dinheiro é algo que se torna cansativo com o tempo, já que na prática não existem muitas vantagens em se alcançar níveis mais avançados, além de desafios um pouco maiores e com mais valor em moedas, que por si só servem apenas para comprar itens domésticos.
Um futuro brilhante?
Na mídia, é perceptível a comparação injusta que estão fazendo de Sea of Thieves com No Man´s Sky. Injusta pois a Rare entregou um jogo totalmente online, com tudo aquilo que ela tinha prometido, algo que não aconteceu no jogo espacial da Hello Games.
Ainda sim, o jogo CLAMA por novas atualizações, já que na parte de exploração e de variedade ele ainda é um pouco “cru”. E isto não é algo necessariamente ruim, pois se o jogo está sendo celebrado de forma tão ostensiva mesmo com pouco conteúdo, a expectativa é de que o jogo se torne um “serviço”, oferecendo mais e mais conteúdo com atualizações pragmáticas, o que com certeza colocaria Sea of Thives em um lugar ainda mais especial em nossa lista de jogos. Contamos com vocês Rare, e com a Microsoft Também.