Quando foi a última vez que um jogo, fora dos holofotes e sem grande publicidade, encantou você, leitor, a ponto de perder a noção do tempo? Essa sensação maravilhosa, é uma das grandes buscas de todo mundo que se deleita com os videojogos. É claro, que todo ano temos promessas de games que irão nos maravilhar, e cumprem sua promessa. Contudo, na humilde opinião desse que vos escreve, o impacto de um jogo é maior quando não temos grandes expectativas.
Desperados 3 não foi o jogo mais aguardado de 2020, afinal é uma franquia esquecida no limbo dos games a vários anos e sem grande publicidade. Porém, entrega uma experiência de retenção de jogador acima da média quando comparado com os título lançado nos últimos anos. Com um fator replay elevadíssimo, devido a diversos objetivos extras de dificuldade extremamente bem balanceada, o título pode proporcionar dezenas de horas de diversão despretensiosa, para quem se arriscar pela pela trama faroesteana digna dos melhores Spaghetti western.
O Cuidado começa no enredo e ambientação
Aproveitando o ensejo, o roteiro de Desperados 3, embora não seja seu maior chamativo, é peça fundamental dentro do game. A trama, que se passa antes dos outros jogos anteriores, é bem amarrada, sem pontas soltas e insere os personagens, bem como suas motivações, de forma concisa. Nenhum dos personagens principais se aventura despropositadamente. Cada um tem suas motivações, ainda que não seja explicado em um primeiro momento.
A história prende a atenção do jogador, não por ter um enredo denso, mas sim, por ser muito bem narrada. Além de alguns plot twists, o título usa o recurso de flashbacks, parte deles jogáveis, não só para justificar um ato ou outro de alguns personagens, mas também para embasar as motivações e os comportamentos dos mesmos.
Outro cuidado que a desenvolvedora teve, foi a de trabalhar a personalidade dos heróis. Cada um tem suas particularidades, que vão sendo demonstradas por diálogos durante as missões e pelas diversas cutscenes do jogo.
A dublagem, ao menos da versão em inglês, só corrobora ainda mais com a personificação dos personagens. Os trejeitos de cada um deles, bem como seu estado de espírito é sentido no timbre da voz de cada um, mesmo para aqueles que não entendem inglês.
Infelizmente, um dos poucos pontos negativos do título é a falta de uma localização para o português. O game foi localizado, inclusive com dublagens, para diversos idiomas, menos o português. Fica a esperança de uma atualização no futuro.
Trilha sonora e gráficos
Seguindo por este caminho, o próximo tópico a ser tratado é a maravilhosa trilha sonora. Eu não estou exagerando ao elogiá-la, mesmo aqueles que não pretendem jogar o título, deveriam dar uma chance a trilha sonora, que pode ser facilmente achada em alguns serviços de streaming. Ela casa perfeitamente com a temática do jogo, e gruda na mente sem ficar enjoativa. Um destaque aqui é a música The bridge at Eagle Falls do compositor Filippo Beck Peccoz. Sem dúvidas, uma das melhores músicas instrumentais que eu já ouvi, dentro e fora dos videogames.
A direção artística do game é outra quesito a se elogiar, as diversas fases do game, além de muito bonitas, são ricas em detalhes. Além disso, a ambientação se encaixa em todo o imaginário que o gênero western nos provoca, sem parecer exagerado.
Um ponto negativo é a água que, em algumas missões, tem aspecto gelatinoso. Contudo, os demais aspectos gráficos do game são tão bons que essa parte não chega a incomodar, de forma alguma.
Jogabilidade
Falando de gameplay, Desperados 3 é um jogo de estratégia furtiva em tempo real, com visão isometrica. Em outras palavras, o jogador deve usar a furtividade e combinar as habilidades dos heróis para eliminar inimigos e concluir os objetivos da missão, a partir de uma perspectiva isometrica.
O jogo é baseado em tentativa e erro das estratégias do jogador. Justamente por isso, o quick save e o quick load são recursos obrigatórios do jogo. Você vai planejar uma cadeia de eventos, tentar, falhar, repetir essas últimas três etapas mais uma dúzia de vezes ou mais, e acertar. O mais legal de tudo, é que apesar de parecer repetitivo, é uma jogabilidade que não enjoa e estimula a tentar diversas abordagens diferentes.
Cada um dos personagens tem uma série de habilidades exclusivas, que podem ser usadas de forma isolada ou em combinação com as demais para se concluir o objetivo da missão. E a beleza do jogo está aí, como há diversas habilidades que podem ser usadas de formas diferentes, há várias abordagens e soluções diferentes para o mesmo problema. A desenvolvedora sabe disso e te desafia revisitar todas as fases para resolver algum problema de outra forma, ou até mesmo concluir outros objetivos.
Apesar de ser um jogo viciante, ao mesmo tempo ele desgasta muito o jogador por exigir imaginação e planejamento constante. Além disso, as fases não são curtas e tem várias etapas intermediárias. Eu levei, em média, 2h30min em cada uma. Claro que isso não é regra, isso varia de jogador para jogador, mas dá pra se ter uma ideia da dificuldade.
Aliás, a dificuldade do game é muito bem trabalhada. Apesar de elevada, em momento algum chega a ser frustrante. Pelo contrário, resolver os quebra cabeças é uma experiência das mais recompensadoras.
Conclusão
Eu tenho ciência que RTS é um gênero de nicho. Contudo, este é um título que merece ser ao menos conhecido pelo público em geral, pois o cuidado da Mimimi Production em entregar um produto polido é sentido em parte do jogo.
Se você é fã do gênero, jogue. Se você quer conhecer o gênero ou nunca jogou um game semelhante, comece por este jogo. Se não gosta do gênero, dê uma chance. Desperados 3, é sem dúvidas, um dos melhores títulos de 2020.
Esta análise só foi possível graças a ajuda da THQ Nordic / Mimimi Games que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia de avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento e confiança.
