Playstation 3 & Xbox 360

Os novos Retrôs – Xbox 360 & Ps3

A MAIS NOVA GERAÇÃO ANTIGA

Tudo que hoje é “novo”, inevitavelmente, irá se tornar “antigo”. A contínua e irrefreável macha do tempo vai mudando tudo, trazendo inovações tecnológicas, mudanças culturais e quebras de paradigmas. Dito tudo isso, você sabia que, bem em breve (na data deste texto), tanto o Xbox 360 quanto o PS3 poderão votar?

Não pense nessa reflexão somente como um anseio nostálgico sobre “os velhos tempos”, mas sim sobre como é fascinante como toda a nova geração de consoles, a qual vai sempre ser o ápice da tecnologia e trazer os melhores gráficos, será sempre ultrapassada.

Porém, o que faz um console ser retrô vai além de meros aspectos técnicos. É uma questão quase filosófica.

Vejam, não seria muito errado dizer que cada geração de console tem um estilo. Práticas que são criadas (e abandonadas), um tipo de visual que sua biblioteca possui, formas de vender e interagir com os consoles e jogos ou a minha prática favorita, que era colocar nos manuais uma página para ser destacada e enviada pelo correio para a empresa, e por aí vai.

Por isso que é possível dizer que determinado jogo ou experiência é algo típico de Super Nintendo ou Playstation 2.

Claro, determinados jogos desviam do padrão, é algo normal. Mas, o importante para esta discussão é, pelo menos nos limites deste texto, entender retrô como “algo que, atualmente, não fazemos mais”.

Só que agora, a coisa fica interessante. Até certo momento, as mudanças e inovações eram geracionais, ou seja, ocorriam de um console para outro, porém, com a chegada do Xbox 360 e PS3, esse paradigma mudou.

Pela primeira vez, alterações drásticas ocorreram durante a vida dos videogames, as quais resultaram em novas maneiras de consumir, socializar, jogar e, mais importante, conseguiram fazer com que dois consoles ficassem, ao mesmo tempo, conectados ao passado e surpreendentemente atuais

O SONHO DO FULL HD

Qual seria a estética de um console da sétima geração? É interessante como essa pergunta é peculiar. Nós temos jogos atuais que intencionalmente vão atrás da estética de um Super Nintendo, de um Game Boy ou até mesmo do Playstation 1, mas e de Playstation 3, temos algum?

Quando menciono essa ideia de estética, é bom deixar claro que falo de um visual partilhado pelos jogos de forma quase universal, motivado pelos aspectos técnicos do console, não pelo estilo artístico famoso em determinado momento.

Ou seja, os jogos que tinham apenas 50 tons de cinza ou marrom pois tentavam emular a temática de Gears of War (sem entender o que faz esse jogo funcionar) ou os infindáveis jogos rodando na Unreal engine 3 não são meu foco.

Ouso dizer que seria quase impossível estabelecer um visual específico dos jogos dessa época, pelo simples motivo que, visualmente, tratou-se de um momento de transição.

Os primeiros anos da geração foram marcados por obras que podem muito bem se encaixar na definição de “Xbox 180/Playstation 2.5”. E eu digo isso no melhor sentido possível.

Como os desenvolvedores ainda estavam acostumados com o design e aspectos técnicos da geração passada, recebemos obras que ou aparentavam terem sido feitas com tal geração em mente e em seguida foram adaptadas para as máquinas mais poderosas ou simplesmente eram versões melhoradas de jogos já existentes.

Alguns excelentes exemplos são Wipeout HD, Folklore, Ninja gaiden sigma e Burnout revenge, os quais lançaram pouco tempo após a chegada dos consoles e continuam sendo – ainda hoje, nos consoles originais – jogos belíssimos e com ótima performance.

Esse “tipo” de jogo é o que, na minha opinião, faz tal geração brilhar, pois possui, ao mesmo tempo, a criatividade e visão artística do fim dos anos 90 e início dos 2000, junto com a nitidez do começo da era full HD. Mas é claro, não só desses jogos viveram o PS3/Xbox 360.

Nós temos também as muitas tentativas de abraçar o futuro.

A partir de 2010 – ou talvez um pouco antes, dependendo de quem estiver falando – novas formas de desenvolver jogos passaram a ser adotadas. Foi nessa geração que as tecnologias modernas deram os primeiros passos.

Obviamente, jogos almejando gráficos realistas utilizando técnicas de ponta estiveram presentes durante toda a história dos videogames, mas o que se tentou alcançar na sétima geração, seja de um ponto de vista técnico ou de apresentação visual, está muito mais próximo da atualidade.

Em outras palavras, ainda que um Far Cry 3 no Xbox 360 seja tecnicamente inferior ao 6º, é possível perceber a conexão visual e tecnológica que há entre os dois jogos. O engraçado é que são justamente esses jogos mais ambiciosos que pior envelheceram.

Para alcançar uma alta qualidade gráfica, muitas obras sacrificaram o sonho do Full HD, contentando-se com uma apresentação em HD (ou até menos) e uma performance abismal.

O resultado disso são jogos que, embora possam ter sido impressionantes na época de seu lançamento, não deixam muito atraente a ideia de jogá-los em suas plataformas originais, fazendo de suas remasterizações, a exemplo de Far Cry 3 classic e The Last Of Us remastered, as versões que “funcionam como deveriam funcionar no lançamento”.

Mas uma peculiar consequência disso é o fato de que eles adaptam bem a um emulador. Ao contrário de jogos mais antigos, os quais não se dão muito bem com resoluções altas ou telas de LCD/OLED, os da sétima geração não só preservam sua identidade visual em resoluções altas, como também o melhor desempenho os permite brilhar.

Por último, temos o terceiro elemento nos “tipos” de jogos de tais consoles: os indies. Foi aqui que obras independentes puderam proliferar e alcançar um escopo global, permitindo um número sem fim de estilos e visuais, os quais, assim como ocorreu com os primeiros lançamentos da geração, envelheceram graciosamente no geral. Contudo, esse estilo de jogo melhor se encaixa com o próximo ponto de nossa conversa.

dashboard

O QUÊ DEFINE UM CONSOLE?

Até certo momento, via de regra, um videogame terminava como começava. Caso você tivesse, no lançamento, um Odissey, Mega Drive, Super Nintendo ou Dreamcast, no fim da vida útil desses consoles, a experiência de como interagimos com a máquina e seus jogos se manteria.

Mas é claro, certas mudanças na cultura e tecnologia podem até modificar um pouco o cenário. Exemplos disso podem ser vistos no pacote de expansão para o Nintendo 64, o qual deixava o console ligeiramente mais potente, ou no fato de que, durante uma pequena parte da vida do Playstation 2, você poderia viver unicamente de jogos musicais com instrumentos de plástico.

Porém, nenhuma destas alterações foi suficiente para realmente modificar drasticamente a experiência de jogar tais consoles. Ou seja, caso você jogue hoje (independente de quando hoje seja para você) um Playstation 1, o console funcionará da mesma forma que em seu lançamento e todos seus jogos terão um “padrão”, que significa coisas como o que virá em sua embalagem, como seu conteúdo é distribuído e por aí vai…

E é exatamente essa a questão. Não há um único “padrão” na sétima geração.

Caso você inicie um Xbox 360 ou um PS3 nos tempos atuais, a experiência será consideravelmente diferente do que foi em seu lançamento, a começar pela tela de entrada.

O menu principal do Xbox 360 sofreu uma série de alterações e adaptações ao longo dos anos, adicionando e retirando determinadas funcionalidades para se adequar à evolução da máquina.

Já o Playstation 3, por sua vez, manteve-se com um belíssimo design que pode muito bem ser definido como requintado. Contudo, a sua loja virtual – Playstation Store – passou por inúmeras e infelizes repaginadas, culminando com uma interface travada e ultrapassada.

Porém, essa é apenas a ponta do Iceberg. O que dizer da Playstation Home, um mundinho virtual no melhor estilo Second Life, no qual você, criando um avatar, andava por ambientes e interagia com outros jogadores e jogava minijogos?

Esse software não era só um jogo, era para ser uma das funcionalidades principais do console, mas nunca alcançou o potencial que a Sony almejava e agora fica esquecido pela memória coletiva dos jogadores. Vale lembrar que parece muito com o conceito do metaverso, o qual torcemos que tenha o mesmo fim.

Outro ponto importante são os próprios jogos, mas em vez de falarmos de uma questão técnica, há um aspecto cultural. É seguro dizer que os jogos lançados nos primeiros anos dos consoles seguem um paradigma consideravelmente diferente do que temos atualmente.

Essa época foi o último suspiro do “pacote completo na caixa” como filosofia dominante, não no sentido de que naquela época os jogos vinham completos, mas sim no sentido de que comprar um jogo físico garantia a presença da mídia e de um manual.

Dois excelentes exemplos são os jogos Folklore e Eternal Sonata, com embalagens belíssimas e manuais coloridos, os quais deixam suas caixas tão pesadas que andar com as duas na rua requer porte de armas.

Você já tentou agredir alguém com uma dessas caixas de switch que nem o cartucho vem? Não vale a pena, a pessoa se levanta muito rápido.

Contudo, é inegável que o que se espera de um jogo também passou por mudanças. Até certo momento, os aspectos diferenciais dos consoles da sétima geração – acesso à internet robusto e memória interna considerável – eram utilizados pelos jogos de maneira meramente opcional.

Enquanto no fim da vida do Playstation 3 a instalação de um jogo é obrigatória e esperada, no início era apenas uma opção que você poderia aceitar para permitir que o seu jogo carregasse mais rapidamente.

Isso também vale para a conectividade com a internet. No começo da geração, diversas limitações se faziam presentes, como a necessidade dos jogos de Playstation 3 realizarem suas atualizações por servidores próprios, não pela Playstation Network, ou as limitações que o “finado” serviço Xbox Live arcade tinha para o tamanho dos jogos (50 MB, 150 MB, 350 MB e, por fim, 2 GB).

Não podemos esquecer da proliferação dos DLCs. Ainda que o conceito de pacotes de expansão preceda a disseminação da internet, foi nessa geração que noções como “passes de temporada” e conteúdo adicional pago de qualidade duvidosa tornaram-se inseparáveis dos videogames.

Ou seja, não há um único cenário específico que defina por completo tal geração. O Xbox 360 e o Playstation 3 que iniciaram essa era não foram os mesmos que a terminaram.

Retrocompatibilidade

UMA GERAÇÃO “METADE RETRÔ”

Quando alguém comenta como sente saudades da época do Playstation 3 ou Xbox 360, ao que ela está se referindo? Seria os primeiros momentos dos consoles, com seus jogos mais experimentais e peculiares ou seria a metade final, na qual diversas “regras” que existem até hoje começaram a se consolidar?

Em vez de serem como seus antecessores, a sétima geração permite que seus saudosistas sintam nostalgia não por sua totalidade, mas sim por um momento específico.

Para muitas pessoas, essa foi a geração dos Battlefield’s e Call of Duty’s, na qual franquias de sucesso chegaram a lucros bilionários e a expectativa de ter de arcar com conteúdo bônus pago tornou-se algo usual.

Para outras, ela foi, durante um tempo, um eco das ideias presentes no Playstation 2 e Xbox original, porém em alta definição, com maior poderio técnico e com o uso de tecnologias inovadoras, como instalar seu jogo na memória e suporte robusto para internet.

A mesma noção vale para o tipo de experiência que os consoles ofereciam. Similar a como alguém pode sentir saudades de determinado momento da vida do Youtube (como quando era possível dar até 5 estrelas para um vídeo), uma específica versão da interface dos consoles ou de suas lojas virtuais pode ser mais nostálgica para uma pessoa e não para outra.

Dessa forma, tanto o Xbox 360 quanto o Playstation 3 carregam, cada um, duas versões de um mesmo videogame.

Uma delas representa o contato entre ideias de suas respectivas gerações passadas com as novas técnicas e estruturas – o mencionado momento “Playstation 2.5/Xbox 180” -, enquanto a outra nada mais é do que uma versão ligeiramente arcaica dos tipos de jogos e formas de consumo que temos na atualidade.

Mas há uma outra forma de ver esse cenário.

Olhando para a biblioteca de jogos disponíveis para tais consoles, anos depois do último jogo ser lançado, o acervo completo revela uma curiosa imagem. Uma que serve para demonstrar com perfeição onde estamos agora.

Vejam bem, apesar das inúmeras problemáticas que este ramo da arte carrega, nunca tivemos em um momento tão saudavelmente diversificado como na atualidade. Ainda que nomes grandes dominem o topo dos “mais vendidos”, os videogames proporcionam atualmente incontáveis variações de tipos de jogos.

É até difícil lembrar da época em que gêneros como os jogos de aventura – sejam eles com interação imediata ou apontar-e-clicar – ou de briga de rua eram considerados mortos.

Olhando para o acervo completo dos jogos da sétima geração, não mais os separando por momentos, podemos perceber onde tudo isso começou. Agora, anos após o seu fim, jogos peculiares que tentam trazer experiências únicas partilham a mesma estante (física ou virtual) com os lançamentos de maior renome, não muito diferente do que passou a acontecer na geração do PS4 e Xbox one.

E isso, mais do que qualquer gênero de jogo ou avanço técnico, faz da sétima geração algo surpreendentemente atual.

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