Eu jogo videogame desde criança. Tive inúmeras aventuras com o meu NES, não o original, mas sim um clone do sistema da Nintendo. Lembro até hoje do dia em que o meu pai chegou com ele em casa.
O console veio com dois controles e um cartucho, Tiles of Fate, que eu não curtia muito na época. Infelizmente só fui gostar desse jogo depois de adulto, mas isso é uma história para outro texto.
Sempre tive alguém jogando comigo, uma hora meu pai, outrora meu primo. Jogamos muitas coisas juntos e sempre compartilhamos entre si ideias para derrotar chefões ou superar determinados estágios.
Não estávamos bem financeiramente para comprar um cartucho novo. Felizmente um vizinho estava vendendo alguns cartuchos usados a um preço acessível. Depois de muito pedir para o meu pai, ele concordou em comprar duas fitas. Uma era o Tiger Heli, jogo de helicóptero e o outro era o 1942, um jogo de “aviãozinho”.
A história de hoje tem relação com o segundo jogo, no caso, o 1942.
O porta aviões
O título 1942 é um jogo de avião ambientado na Guerra do Pacífico, um dos teatros de operações da Segunda Guerra Mundial.
Nele controlamos um avião do modelo Lockheed P-38 Lightning, que decola de um porta-aviões no meio do oceano. A missão principal do jogo era abater os aviões adversários, desviar dos projéteis inimigos (que eram muitos) e chegar a Tóquio para destruir toda a frota de aviões japoneses. A jogabilidade era tão simples, que larguei ele rapidamente. Sendo bem sincero, eu me importei mais com o Tiger Heli, do que com ele.
Com a falta de novos jogos, pois os cartuchos eram caros na época, resolvi voltar a jogar o 1942. Depois de alguns dias passei a curti o jogo.
Eu não fui o único, meu pai e o meu primo Leandro também gostaram dele e desde então, passamos a tentar fechar o tal 1942. Dia após dia, tentamos superar as barreiras que surgiam a cada decolagem do porta-aviões. Porém sem sucesso.
Na época eu estudava no período da manhã, por conta disso, eu só conseguia jogar videogame no final da tarde. Um certo dia eu estava chegando em casa, quando fui parado pelo meu primo no portão de casa. Ele estava empolgado e comentou comigo que tinha enfrentado um chefe no 1942.
Sai correndo em direção a minha casa para confirmar a história com o meu pai. , que confirmou o ocorrido e acrescentou que tentaram de tudo para vencer o chefe, porém sem sucesso.
O avião chefe
Concluí minhas tarefas escolares rapidamente e iniciei a jogatina junto com o meu primo e meu pai. Eu queria muito enfrentar o tal avião chefe, esse era o nome que dei para ele na época.
Depois de algumas tentativas, conseguimos chegar no dito cujo. Lembro-me de ter ficado maravilhado com aquilo. Era um avião enorme, com um poder de fogo absurdo. Tentamos derrotá-los de todas as formas, sem sucesso. Em um dado momento tive a brilhante ideia de jogar o meu avião em direção ao chefe, para derrotá-lo e torcer para o jogo reiniciar sem a presença dele. Coisa de criança, sabe? Óbvio que não deu certo e ficamos mais uma vez empacados.
Aquela experiência me deixou com a cabeça a mil por hora. A todo momento eu me pegava pensando no jogo, procurando uma forma de derrotar aquele inimigo. A noite chegou e fui dormir. Naquela noite acabei sonhando com o jogo.
O dia amanheceu e a primeira coisa que disse para o meu pai foi:
Eu sei como derrotar o avião chefe.
Lá estava eu novamente pilotando o Lockheed P-38. Não demorei para chegar no chefe. Lá estava ele, o grande inimigo, o obstáculo intransponível. Mas desta vez, eu estava preparado.
Fiz o mesmo que havia aprendido no sonho. Coloquei o meu avião colado à asa direita do adversário e não parei de atirar. Foi assim que eu tinha feito no sonho.
Estando naquela posição, nenhum projétil do inimigo me atingia. Depois de um tempo, o avião-chefe sucumbiu a minha tática. Meu pai e meu primo estavam eufóricos ao meu lado.
Eu, surpreso, não acreditava que de um sonho veio a resposta para derrotar aquele chefe.
Curiosidades
O jogo foi lançado originalmente para os arcades em 1984. A empresa por trás do título era nada mais, nada menos que a Capcom e o responsável pelo seu desenvolvimento foi o japonês Yoshiki Okamoto.
O game fez sucesso no Japão, Europa e Estados Unidos. Ele figurou por diversas vezes em listas dos melhores jogos de arcade da semana. Estando sempre entre as dez primeiras posições.
A versão de NES (a que joguei) foi lançada em 1985 e vendeu mais de 1 milhão de cópias ao redor do mundo. Superando outros sucessos da empresa japonesa.
Em uma das páginas do manual do jogo vinha uma mensagem especial do Capitão Comando. Era uma versão diferente da que conhecemos. Ela fez parte de uma iniciativa criada pela Capcom, chamada de Captain Commando Challenge Series.
Essa iniciativa trazia o Capitão parabenizando o jogador pela aquisição. A mensagem esteve presente no manual dos seguintes jogos: 1942, Comando, Ghosts ‘n Goblins, Mega Man, Trojan, Section Z e Gun Smoke.