Análise – The Big Con

LANÇAMENTO
31/8/2021
DESENVOLVIDO POR
Mighty Yell Studios
PUBLICADO POR
Skybound Games

Tendo nascido em 1989, os Anos 90 são, para mim, o sinônimo de infância! Assistir ‘Coragem’, ‘Johnny Bravo’ e ‘A Vaca e o Frango’ no Cartoon Network e ‘Doug’, ‘Rugrats’ e ‘Hey Arnold!’ na Nickelodeon ou o filme do Mortal Kombat em uma fita K7 e instalar o shareware do Wolfenstein 3D no meu PC Pentium MMX da coleção de jogos em disquete do meu pai foram parte marcante dos meus primeiros anos na Terra! Lógico que o futebol descalço com traves de chinelo e o poder sobrenatural que toda criança tinha de pressentir o início de Cavaleiros do Zodíaco na TV Manchete sem precisar de relógio também foram parte de uma infância muito bem curtida!

Pra evitar acusar (ainda mais!) o peso da idade, basta dizer que a década de 1990 ainda é muito vívida em minha memória, e a premissa de The Big Con é justamente explorar de todas as formas possíveis essa nostalgia! Seja a cultura das videolocadoras ou a explosão da moda grunge, são diversas as referências que podem ser encontradas nesse jogo para essa época tão marcante na cultura global.

Com uma pegada meio Point-and-Click adaptada para um controle de videogame, The Big Con se propõe a contar a história de Ali, uma jovem de 17 anos que vive em uma cidadezinha dos Estados Unidos e cuja vida gira em torno da locadora de sua mãe, uma das engrenagens da pequena economia da cidade. Confere aqui com a gente se essa aventura faz jus aos vibrantes e icônicos Anos 90!

Localização, Modos de Jogo e Mapa

Primeiramente, é sempre bom ver um jogo que possibilita os não-falantes de inglês de aproveitarem ao máximo a experiência do jogo, e The Big Con faz isso muito bem! A localização é quase impecável, tendo pouquíssimos problemas de balões de diálogo ou de contexto não traduzidos. O único momento bizarro foi um diálogo específico na metade do jogo que teve um balão de fala aparentemente em chinês, mas tirando esse probleminha a experiência em português foi muito bem apresentada!

The Big Con é uma experiência narrativa linear, contando apenas com um Modo História tradicional. Sobre a história: como já falado anteriormente você controla Ali, uma adolescente de 17 anos, apaixonada por filmes e pela locadora de sua mãe. Sua vida toma um rumo inesperado quando Ali descobre às vésperas de viajar para um acampamento musical da Juniper – conceituada escola de música -, que sua mãe possui uma dívida de quase 100 mil dólares com um grupo de agiotas, e que tinha apenas 10 dias para realizar o pagamento, correndo o risco de perder a loja!

É assim que você conhece Ted, um golpista que acaba descobrindo a situação de Ali, e a convida para fazer parte de um plano ambicioso – e moralmente questionável! – de não viajar para o acampamento da Juniper e, no lugar, viajar pelo país aplicando golpes para conseguir juntar dinheiro o bastante para pagar a dívida da locadora. Dessa forma, você começa a bater carteiras na cidade em que nasceu e passou toda a vida, roubando dinheiro de amigos e pessoas conhecidas para conseguir a passagem de ônibus que vai dar início à sua aventura pelo país.

As fases do jogo são divididas em mapas – a cidadezinha onde Ali vive, um shopping center, um trem, a cidade de Las Venganza (uma óbvia analogia a Las Vegas) e um cassino. Cada fase apresenta um requerimento em dinheiro para avançar para o próximo mapa. Para isso, você tem algumas opções: pode literalmente roubar tudo e todos que estiverem no seu caminho – conseguindo itens para trocar com pessoas que estão procurando objetos específicos, ou pode tentar evitar a escolha de afanar tudo que não estiver pregado no chão e tentar descobrir do que os personagens mais importantes de cada fase precisam para que você consiga dinheiro o bastante para avançar na história.

Existe também um colecionador de itens… exóticos (quem jogar vai entender bem!) que compra praticamente qualquer lixo que você encontrar por uma quantia surpreendentemente decente de dinheiro, então fique de olho em qualquer item jogado no chão e nas lixeiras espalhadas pelo mapa!

No começo tentei avançar como um bom cidadão respeitador da lei, mas em alguns momentos do jogo simplesmente não vi outra opção que não fosse roubar uma pessoa para conseguir itens específicos que não encontrei em nenhum outro lugar da fase. Sobre o deslocamento no mapa, nas fases menores a velocidade da personagem e inexistência de um mapa não incomodam, mas nas fases maiores andar de um lugar a outro para trocar item A por item B é um exercício de paciência!

Interface, Dificuldade e Jogabilidade

A interface do jogo é bem simples, sendo exatamente o que o jogo precisa: um inventário com os itens que você coletou durante a fase, uma agenda onde Ali faz anotações sobre as missões que ela recebe durante as fases, além de registros das conversas importantes para o progresso no jogo. Para roubar dinheiro das pessoas, é só ficar atrás delas e, quando o ícone de bolso com dinheiro aparecer no canto da tela, é só pressionar Y (no Xbox) para começar o minigame da atividade, que consiste em uma régua onde você precisa apertar o botão na hora certa para ter sucesso. Caso você falha, você pode usar disfarces (que são encontrados espalhados pelo mapa), mas fique atento, pois você só pode falhar 3 vezes no mapa antes do fatídico Game Over!

Sendo um point-and-click mais focado na história do que em mecânicas de dificuldade, o jogo não possui variações de dificuldade. Porém, se desejar você pode desligar o minigame de bater carteiras no Menu do Jogo, além de alterar a fonte e tamanho dos textos do jogo, consistindo em ferramentas de acessibilidade bem interessantes. Não tem muito mistério sobre como jogar The Big Con: roube dinheiro suficiente para avançar para o próximo nível, ou descubra quais os personagens do mapa procuram por itens específicos para vendê-los, e venda as sobras (literalmente!) para o colecionador, que vai aparecer em praticamente todas as fases.

Caso você se esqueça o que precisa fazer ou se perder, Ali tem um amigo imaginário (os Anos 90 tinham muito disso, né?) que aparece para te ajudar. Ironicamente, ele tem locais específicos para aparecer em cada nível e você pode acabar esquecendo onde ele geralmente aparece… não que isso tenha acontecido comigo!

Gráficos e Som

Graficamente, o jogo mistura vários elementos estéticos dos Anos 90: quem já assistiu Hey Arnold! ou Doug como eu vai ter uma sensação permanente de familiaridade visual durante o jogo. Dentro desse aspecto a proposta do jogo ficou bem legal, um estilo desenhado e bem colorido bastante agradável! O que mais diverte é pegar algumas referências da década: como a loja vendendo camisas-xadrez, marca registrada da cultura grunge da época; ou a indecisão na hora de alugar um filme sem ter internet para ver trailers, teasers ou ler análises e acompanhar notas dos lançamentos em VHS! Quem cresceu com banda larga desde sempre é privilegiado, sim!

No departamento sonoro, o jogo da uma deslizada bem grande – ainda mais com toda a promoção que foi feita sobre os voice actors, com direito a trailer e tudo! – e acaba não apresentando nada muito marcante. A ‘atuação’ se limita a exclamações (‘Hmm!’, ‘All right!’), risadas e sinais de frustração (‘Grrr…’, ‘REALLY?!) esporádicos e que existem apenas para ‘cumprir tabela’. O frisson causado pela equipe sobre o voice acting do jogo me parece mais jogada publicitária que qualquer outra coisa, infelizmente. Ainda no departamento sonoro, as músicas, com poucas exceções, são bem genéricas e, em algumas fases, são tão curtas e repetitivas que o botão de mudo do controle remoto te chama de forma quase irresistível (fase do trem, estou olhando para você…)

 

Diversão e Conclusões

Chegando à nossa conclusão, The Big Con se apresenta como uma homenagem à década de 90 recheada de referências à época e uma jogabilidade bem simples, sendo exatamente o que o jogo precisa para contar sua história! No fim das contas, o jogo é uma reflexão bem interessante sobre a passagem da adolescência para a vida adulta – entre não ser levado a sério, viajar para longe de suas origens e tomar decisões que afetam não apenas a sua vida, mas a de todos à sua volta.

Ainda que o jogo releve demais – ao ponto de normalizar – o fato de Ali ter se tornado uma golpista, na vibe “os fins justificam os meios”, no geral é uma história curta, porém contada de forma satisfatória, em sua maioria. A questão é: o jogo se sustenta demais na nostalgia aos Anos 90, deixando em aberto algumas oportunidades de trama, como questionar (pelo meno uma vez!) as escolhas morais de Ali e deixando de lado o impacto de seus golpes, focando apenas no objetivo de juntar o bastante para salvar os negócios da família.

Logo, recomendo o jogo apenas a quem tem alguma conexão com os Anos 90, pois o jogo faz disso sua essência. Não acho que gamers que não vivenciaram essa época possam sentir nada mais do que um certo deslocamento… no máximo terão o mesmo contato com um passado exótico que todos temos quando olhamos para o Egito Antigo ou a Idade Média. Infelizmente, o jogo é curto demais, raso demais, para cativar um público fora do seu nicho afetivo.

Esta análise só foi possível graças a Skybound Games, que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança! O jogo já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.

Análise – The Big Con
Conclusão
Com uma interessante mistura estética de referências dos anos 90 e apostando (até demais) na nostalgia pela época, The Big Con é um conto sobre a transição para a vida adulta que falha em apresentar um experiência marcante, especialmente na forma como releva - e até naturaliza - o fato de a protagonista se tornar uma golpista!
Gráficos
7
Jogabilidade
6
Som
3.5
Diversão
6
Prós
Mix estético e referências dos Anos 90 bacana!
Analogia interessante sobre a passagem para a vida adulta.
Contras
Nas fases maiores, progredir no jogo é um exercício de paciência.
Em certos níveis, a trilha sonora curta e repetitiva incomoda.
Suas escolhas quase não pesam no desenrolar da trama.
5.6
SEM GRAÇA
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