Após uma série de desastrosas aventuras e um longo hiato sem lançamentos o paquerador mais carismático dos videogames está de volta, Larry Laffer estreia sua nova aventura no Xbox One.
Mas será que o retorno triunfante de Larry é tudo que os fãs estão esperando? O humor grosseiro será suficiente para entreter novos jogadores? Vamos descobrir!
Quem raios é Leisure Suit Larry?
Se existe alguém que é fã da mecânica “clicar” com o mouse no gênero dos jogos de aventura, esse alguém é Larry Laffer. O protagonista de Leisure Suit Larry está de volta com um jogo que revive o antigo espírito dos jogos de aventura. A grande verdade é que a chama de um paquerador como Larry Laffer nunca se apaga completamente e Leisure Suit Larry: Wet Dreams Don’t Dry é a prova viva. A nova edição de uma das franquias de aventura mais populares de todos os tempos, bem, novo não é, já que o jogo chegou ao PC em 2018, mas agora em 2020 temos finalmente a oportunidade de jogar.
Para aqueles que não conhecem a franquia Leisure Suit Larry vamos ser claros: o protagonista precisa conquistar a maior quantidade de garotas possível, embora geralmente haja uma em particular que é a mais importante da trama. Depois de oito jogos (sem contar os remakes), esta meta continua mais fresca do que nunca na cabeça de um Larry que continua amarrado no distante ano de 1987, quando conhecemos sua primeira aventura. Precisamente, esse é um dos trunfos quando se trata de humor com esta pegada mais picante: a trama sempre começa com Larry acordando hoje. Ele realmente sempre acha que estamos em 1987 e de repente descobre que está “congelado” há mais de 30 anos.
Atualmente, as pessoas não flertam mais tanto em bares quanto nas redes sociais, e isso surpreende o nosso protagonista que chama os telefones celulares de “caixas brilhantes”. Sua confusão com rotinas que consideramos comuns (como trocar de celular de vez em quando ou pedir um uber por meio de um aplicativo) dá origem a algumas das piadas mais engraçadas de uma aventura gráfica que, como sempre, depende muito do humor para agradar os fãs.
Uma história adulta
Não é segredo para ninguém que esse humor também inclui muitas referências sexuais, trocadilhos (a empresa líder de tecnologia se chama Prune – gíria para vagina – em vez de Apple). Você vai cansar de ver inúmeros pênis no cenário, garotas seminuas e também uma estranha imagem escatológica. Nada que escandalize um adulto, claro, mas uma coisa é certa e até certo ponto surpreendente, que nestes anos eles ainda se atrevam a utilizar um humor tão selvagem. Parabéns para a produtora que foi absolutamente fiel à fórmula de Larry.
Os momentos em que Larry é mais desajeitado ou infeliz são também os mais engraçados do jogo e, embora obviamente toda a história tenha um fundo exclusivamente machista, tende a ser sustentada por críticas a estereótipos (hipsters pedantes, roqueiros desbocados etc.) onde tudo tem um tom bastante irônico.
Jogabilidade clássica raiz
Em termos de jogabilidade, Leisure Suit Larry: Wet Dreams Don’t Dry é uma aventura gráfica raiz (old school), onde os controles resumem-se em pegar itens, interagir com o cenário e manter diálogos com personagens secundários. A mecânica segue a receita de sucesso de outro jogos clássicos como Monkey Island, King’s Quest e mais recente Thimbleweed Park (DEUS te abençoe Ron Gilbert). Portanto, temos que resolver quebra-cabeças constantemente, como quebrar um fone de ouvido de realidade virtual para usar sua lente como uma lupa ou pegar um preservativo para usar como uma gaiola improvisada para um rato.
Em geral, a grande maioria dos quebra-cabeças do jogo têm uma boa lógica, embora quando os objetivos começam a se multiplicar no inventário começamos a nos deparar com quebra-cabeças que são excessivamente enigmáticos, causando uma certa frustração. É inevitável acabar caindo na velha tática de tentativa e erro, mesmo porque o jogo não nos fornece explicações suficientes. Porém isso nem sempre acontece e muitos quebra-cabeças são até fáceis de deduzir e têm sua graça, mas no geral o jogo é bem simples (uma mudança na dinâmica poderia fazer bem ao jogo). Eu tenho certeza que se você é um jogador de aventuras das antigas vai sentir como se estivesse em casa, alô nostalgia.
Além do inventário e das ações básicas habituais nos adventures (Ver, Usar, Falar e Combinar), Larry agora conta com um celular com o qual podemos acessar alguns aplicativos que possibilitam maior interatividade como: Instacrap, uma paródia do Instagram que nos permite ver imagens de momentos-chave do jogo; Timber, que imita o Tinder e nos mostra perfis de personagens com quem Larry pode flertar; e o Unter, aplicativo semelhante ao Uber para chamar um carro e viajar para outros locais.
Aqui temos o primeiro ponto negativo, embora na versão PC o manuseio do inventário e principalmente dos extras no celular seja mais confortável devido ao uso do mouse, na versão consoles (Xbox One) descobrimos que é extremamente incômodo mover-se pelos itens do inventário e principalmente quando acessamos alguns aplicativos como o Timber. É verdade que a manipulação do cursor foi aprimorada por uma movimentação mais rápida com o LB e RB, mas mesmo assim ainda continua sendo incômodo a utilização da mesma mecânica do PC.
Gráficos estilo “Flash” são bons, mas podiam ser melhores
Quanto à parte técnica, os desenvolvedores optaram por utilizar uma roupagem digamos “estilo Flash”, popular em jogos baseados em sprites, como visto nos recentes Streets of Rage 4 e Battletoads. Agora vem o segundo ponto negativo, a técnica funciona bem se for aplicada com qualidade, porém a impressão é de que os desenhos são simples demais, beirando o medíocre, principalmente se compararmos com episódios anteriores da saga como o extraordinário Larry: Love for Sail (o melhor jogo da franquia na minha opinião).
Mesmo assim encontramos muitos detalhes hilários nas animações de Larry, os cenários inclusive incluem piadas engraçadas, tanto sexualmente quanto em referências da cultura pop. Se você for um fã de jogos adventure fica o desafio: encontre a referência de Day of The Tentacle. Também há um pouco de humor meta-referencial, como um teste de conhecimentos gerais logo no início do jogo para ver se temos a idade mínima para jogar (uma clara homenagem ao controles anti-pirataria comum aos jogos da década de 80) e também a menção honrosa a Al Lowe, o criador da franquia Leisure Suit Larry.
Cadê o Larry baixinho e barrigudo?
O design do personagem principal foi simplificado e ele não é mais tão baixo e barrigudo quanto antes. Na minha opinião existem alguns elementos não devem ser “tocados” e este é um deles. A mudança visual de Larry não me agradou, ele perdeu um pouco do seu carisma, embora suas animações faciais esteja bem melhores e mais engraçadas.
A dublagem original em inglês foi mantida (Jan Rabson com o seu tom característico de Woody Allen), infelizmente o jogo não conta com legendas em português brasileiro. A trilha sonora em especial, se destaca com melodias ao melhor estilo jazz, super elegante e imersiva, colocando você praticamente dentro de um bar.
Em linhas gerais, Leisure Suit Larry: Wet Dreams Don’t Dry é uma grata homenagem ao estilo adventure consagrado dos anos 80 e início dos anos 90. A minha impressão é que o jogo poderia ser melhor, talvez por falta de ambição da produtora em vários aspectos. Mas não se engane, Leisure Suit Larry: Wet Dreams Don´t Dry entrega exatamente o que um fã clássico do gênero sempre sonhou.
Esta análise só foi possível graças a Assemble Entertainment que gentilmente nos disponibilizou uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento e confiança.