Dentre os diversos jogos de ação em mundo aberto, Far Cry é de longe um dos mais completos, tornando-se referência no gênero.
Se você não conhece a franquia Far Cry eu vou resumir a premissa, o jogo coloca o protagonista em um local isolado do mundo, sob domínio de um vilão insano e você precisa achar uma forma de derrubá-lo do poder e restabelecer a paz entre a população, custe o que custar. Neste meio tempo o jogador vai aprender a sobreviver naquele ambiente selvagem, matar alguns bandidos, conhecer novas pessoas, formar alianças etc.
Muitas pessoas, inclusive eu, consideram Far Cry 3 como o melhor jogo da franquia até agora, seja pelo fator novidade, vilão, exploração etc. Os dois jogos seguintes (Far Cry 4 e Far Cry 5) foram bons e ampliaram o universo da franquia, tratando de assuntos polêmicos como o fanatismo religioso por exemplo, porém jamais foram unanimidade entre os fãs.
Far Cry 6 está entre nós e promete revolucionar a fórmula que fez da franquia um sucesso. Mas será que ele vai conseguir entregar qualidade e inovação? será que supera o terceiro jogo da série? será um jogo divertido? ou veremos apenas uma repetição de mecânicas dos jogos anteriores? confira a nossa análise.
A trama de Far Cry 6
Far Cry 6 se passa na paradisíaca Yara, uma ilha tropical fictícia localizada no coração do caribe, qualquer semelhança com Cuba é mera coincidência.A história de Yara foi escrita com o sangue de inocentes que morreram durante os constantes conflitos entre guerrilheiros e a família Castillo.
O ano é 2014 e Yara tem um novo presidente, Antón Castillo. Castillo promete um futuro promissor para a ilha, apoiado na descoberta revolucionária de uma substância que promete combater o câncer, o VIVIRO. Porém o que poucas pessoas sabem é que a produção do VIVIRO requer o cultivo de uma substância tóxica nas plantações de tabaco de Yara, causando danos irreversíveis aos agricultores e demais trabalhadores. Contra a vontade da população, Castillo impõe o regime de trabalho escravo aos cidadãos, tudo isso apoiado pela FND (Força Nacional de Defesa). Sendo assim ele controla a ilha e tudo o que há nela com um regime autoritário, assim como seus ancestrais.
Neste meio tempo somos apresentados a Diego, filho de Antón Castillo, que diferentemente do pai, não quer seguir o mesmo “caminho político”, muito pelo contrário, o jovem não aceita o modo como o pai trata a população de Yara e constantemente se vê dividido entre a família e a população. Com os militares na rua, impondo o terror, a situação de Yara fica cada vez mais difícil e os habitantes precisam tomar uma decisão, obedecer às ordens de Castillo ou lutar por sua liberdade, é justamente aí que você entra na história.
Aqui já fica a minha primeira crítica, os últimos jogos que a Ubisoft produziu não tem um protagonista definido, você pode ser o que você quiser. Eu entendo que a diversidade está entre nós e as pessoas têm o direito de ver sua classe representada exatamente como ela é, com suas particularidades, características, opções sexuais etc.
Porém nós estamos falando de um jogo de videogame, onde tudo é imaginário, as aventuras são criadas para divertir o jogador e não representá-lo, para isso nós temos a nossa vida no mundo real. É bem verdade que o foco de Far Cry nunca foram os protagonistas, mas sim os vilões, porém é preciso ter um protagonista definido para se contar uma boa história.
Logo no início o jogador tem a opção de escolher entre jogar com um protagonista do sexo masculino ou feminino, sem que isso afete a história de modo geral. Mas será que se tivéssemos um protagonista definido a história não seria melhor? as decisões não teriam mais peso? Não estou dizendo que é certo ou errado ter a escolha de gênero, apenas acredito que um protagonista definido agrega mais na história, eu optei por jogar com a protagonista feminina.
Os personagens de Far Cry 6
Nossa protagonista é Dani Rojas, uma moradora local e ex-militar que optou por fugir de Yara e recomeçar a vida nos Estados Unidos, porém alguns acontecimentos levam Dani a mudar seus planos e ajudar os guerrilheiros da Libertad (nome do grupo) na luta contra Antón Castillo.
Antón Castillo é conhecido como “El presidente”, interpretado por Giancarlo Esposito, o Gustavo Fring de Breaking Bad. Durante o jogo dificilmente você vai interagir com ele, o personagem aparece mais em cut-scenes, que aliás estão muito bem feitas e conseguem mostrar o lado mais sombrio do ditador. Castillo é um ótimo vilão, arrisco dizer que é melhor do que Vaas Montenegro, vilão de Far Cry 3.
Conforme a história avança vamos conhecendo novos aliados, que apesar de não gostarem de Castillo, também não confiam 100% em Dani e seu grupo de revolucionários. Cada aliado possui uma história, bem como um motivo pessoal para acabar com a vida do ditador.
Um legítimo Far Cry recheado de tiroteio e explosões
A essência de Far Cry sempre foi a liberdade, você pode ir para qualquer lugar do mapa, explorar as localidades, explodir as coisas, trocar tiros contra vários inimigos e muito mais. Far Cry 6 tem tudo isso e muito mais, principalmente graças ao gigantesco mapa que está repleto de atividades e recursos para você coletar.
Quando me perguntam se Far Cry 6 é um bom jogo, eu respondo que sim, porque ele oferece o ingrediente principal que todo jogador gosta, a liberdade. Você pode, por exemplo, invadir um posto de controle de forma discreta, se escondendo nas sombras, desativando os alarmes e apagando os inimigos sem chamar a atenção, ou então metendo os dois pés na porta atirando para todo lado, e finalizando com o Supremo (uma das habilidades de Dani), você decide o que quer fazer.
Aliás falando do Supremo, esta é uma das mudanças mais significativas em Far Cry 6 para seus antecessores, o jogo substituiu a tradicional árvore de habilidades do personagem, para melhorias que ficam vinculados aos seus equipamentos.
Armas, armas e mais armas
Como eu disse acima, a árvore de habilidades deu lugar às melhorias de equipamentos. No total são cinco espaços que Dani tem disponível para “vestir” o seu arsenal, são eles: capacete, tronco, membros superiores, membros inferiores e os pés. Todas estas melhorias e itens são liberados no decorrer do jogo, você pode fabricá-los com recursos que são encontrados explorando a ilha.
Essa mudança é muito bem vinda, porque ela possibilita uma infinidade de armas e itens que não precisam ser descartados e podem ser equipados em determinada situação que seja exigida na missão. Por exemplo, tem uma missão em que Dani precisa incendiar as plantações de VIVIRO, você pode fabricar melhorias no traje para que ela tenha maior resistência contra chamas.
Dani pode equipar até três armas nos slots principais e uma arma no slot secundário, sendo que todas elas podem ser personalizadas com melhorias e novos visuais. As melhorias vão desde compensadores de recuo, até habilidades especiais como recuperar energia quando os inimigos são atingidos.
As opções de customizações são bem variadas, você pode adicionar diversos itens cosméticos para deixar o arsenal com a sua cara. Eu arrisco dizer que a mecânica de personalizações em Far Cry 6 é a mais completa de todos os jogos lançados até hoje.
Os companheiros de Far Cry 6
Confesso que quando assisti pela primeira vez o vídeo de divulgação dos companheiros eu achei uma tremenda besteira, apenas mais um enche linguiça. Porém quando comecei a jogar e conheci os companheiros fui obrigado a mudar de opinião. Além de serem exóticos eles são extremamente úteis, principalmente em situações de risco.
No total são sete companheiros, cada um com sua identidade e habilidade própria. Com eles é possível distrair ou até mesmo eliminar os inimigos. Eu particularmente gostei dos dois primeiros, Guapo o crocodilo com o dente de ouro e Chorizo, o famoso cachorro salsicha da raça Dachshund que se locomove com uma cadeira de rodas personalizada. Minha família sempre teve cachorros e curiosamente grande parte deles eram da raça Dachshund, por isso sou suspeito para falar que ele é o melhor.
Já que estamos falando sobre companheiros, acho importante falar sobre a polêmica RINHA DE GALOS. Se você não conhece, a rinha de galo é uma briga entre galos que só acaba quando um dos animais morrem.
A rinha de galos é proibida no Brasil e em vários outros países, porém é uma prática comum e bastante tradicional em CUBA, localidade que inspirou grande parte da construção de Yara. Diferentemente da Rinha de Galo real que é feroz e visceral, a versão presente em Far Cry 6 é bem menos agressiva. Ela se resume a um jogo de luta com galos, onde cada animal possui golpes para atacar e defender, mas sem sangue e sem morte, praticamente um Street Fighter com galos.
A intenção da Ubisoft é retratar a cultura da localidade onde o jogo se desenvolve, uma delas é a Rinha de Galo. O pedido de remoção desta particularidade do jogo é um tanto quanto exagerado na minha opinião, mas isso é uma outra discussão que não cabe aqui.
Se isso te ofende de alguma maneira, apenas ignore esta parte e continue se divertindo.
Os problemas herdados
Eu sou um super fã da franquia Far Cry, joguei todos os jogos até hoje e me diverti bastante, mas corta o coração ver que a Ubisoft simplesmente ignora alguns problemas da mecânica que vem desde os outros jogos. Convenhamos, os veículos nunca foram unanimidade em Far Cry, a experiência de dirigir pelo mapa consegue ser frustrante, principalmente em lugares apertados. Não vou ser hipócrita em dizer que não houveram melhorias, com certeza melhorou muito, mas dirigir qualquer coisa em Far Cry 6 não é uma experiência das melhores, principalmente com os cavalos.
Outra mecânica que não evoluiu foi a de subir em áreas mais altas, nos jogos anteriores parece que tivemos uma breve melhoria, talvez por causa do contraste do mapa, mas em Far Cry 6 fica difícil distinguir o que é e o que não é escalável. Essa dificuldade fica mais atenuada na hora do combate, quando o tiroteio tá comendo solto e você precisa escapar, fica complicado identificar o que pode ser escalado ou não.
Ainda falando dos problemas da mecânica de movimentação, é muito comum ficarmos “presos” em algum lugar que não é possível alcançar e se tornar um alvo fácil para os inimigos, principalmente nas missões de conquistas dos postos onde existe o combate em ambientes fechados. Quando eu falar da IA vocês vão entender!
Uma IA não tão inteligente
Algo que eu percebi conforme explorava o mapa e que começou a me irritar foi o comportamento dos inimigos e NPCs. Era comum presenciar eles correndo aleatoriamente pelo mapa ou assustando-se sem que nada estivesse ao seu redor causando aquela ação. Porém dentro de ambientes mais fechados este comportamento era mais próximo do real e principalmente os inimigos eram mais perigosos.
Para vocês terem uma ideia, um soldado da FND quando é abordado em locais abertos não entra em conflito direto, ele prefere fugir e buscar uma cobertura. Já dentro de um ambiente fechado como os postos de controle eles são terrivelmente implacáveis, principalmente quando estão em grupos ou motorizados.
O mesmo comportamento vale para os NPCs aliados, quando você mais precisa da ajuda deles, mais estúpidos eles são. Por várias vezes fiquei preso em cantos que não conseguia sair durante o combate porque um NPC aliado bloqueou a passagem com algum veículo, ou simplesmente não engajando no tiroteio próximo ao posto de controle.
Um mapa gigante para ser explorado
Se tem algo que a franquia Far Cry sempre entrega com maestria é um mapa muito bem criado e recheado de atividades para os jogadores, com Far Cry 6 não é diferente, entre missões secundárias, itens coletáveis e outras coisas. Acredito que uma das melhores novidades dos mapas é a possibilidade de se gerenciar os pontos conquistados. Por exemplo, um acampamento depois de conquistado pode receber atualizações com vantagens, facilitando o acesso a armas, pontos de viagem rápida etc.
A exploração do mapa fica muito mais interessante no modo cooperativo, onde dois jogadores podem inclusive completar a campanha principal do início ao fim. Existem itens do mapa que só podem ser adquiridos nas Operações Especiais que são missões exclusivas do modo cooperativo.
Uma Ilha bonita, mas nem tanto!
É incrível como a Ubisoft consegue fazer milagres com a Dunia Engine, as paisagens de Yara são muito bonitas e coloridas, rodando em 4K e 60FPS no Xbox Series X, porém sem a utilização do Ray Tracing, que é exclusivo da versão para PC.
Sem sombra de dúvidas o mapa de Far Cry 6 é o mais belo e detalhado já visto em todos os jogos da franquia, porém é possível ver que a Dunia Engine chegou ao seu limite. Mesmo com a instalação do pacote de texturas em alta resolução, em momento algum eu senti que estava jogando um jogo da nova geração. É bem verdade que a performance e os tempos de carregamento mais rápidos são melhorias bem vindas, mas a parte gráfica entrega que Far Cry 6 é um jogo crossgen.
O som do Caribe em português
A música de Far Cry 6 é assinada pelo premiado compositor brasileiro Pedro Bromfman, responsável pela trilha sonora de RoboCop (2014), onde ele inclusive ganhou o prêmio ASCAP, três temporadas da série Narcos, Tropa de Elite e muitos outros trabalhos.
As músicas traduzem o espírito da Ilha de Yara e seus personagens, com ritmos tradicionais latino-americano e caribenho. O álbum intitulado Far Cry 6 (Original Game Soundtrack) contém trilhas originais que foram produzidas especialmente para o jogo e está disponível nos principais players digitais como Spotify, Deezer e Youtube Music.
Porém não é apenas na trilha sonora que os brasileiros brilham, a dublagem em português de Far Cry 6 foi muito bem produzida. Marcelo Pissardini dá voz ao vilão Antón Castillo, Luciana Baroli interpreta a guerrilheira Clara García e Francisco Júnior assume o papel do irreverente Juan Cortez. Para aqueles que preferem o áudio original fiquem tranquilos, pois as legendas dos diálogos e os textos dos menus ficaram excelentes. Aliás, a Ubisoft está de parabéns por oferecer diversas opções de acessibilidade para jogadores que possuem algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, visual ou de coordenação.
Eu estava quase esquecendo de falar que Far Cry 6 tem uma das melhores ações de marketing para divulgar um jogo no Brasil. A Ubisoft fez uma parceria com o grupo É o Tchan para divulgar o jogo, o resultado é uma paródia muito divertida assinada pelos Irmãos Castro.
Afinal de contas, vale a pena?
Como um fã da franquia, é preciso dizer que Far Cry 6 está longe de revolucionar, muito pelo contrário, o jogo não tem pretensão alguma em fazer isso com a franquia. Para mim fica claro que a intenção da Ubisoft foi aproveitar tudo o que deu certo nos jogos produzidos até aqui , trazer de volta o ambiente original da série, com algumas pitadas de novidade aqui e ali, porém mantendo-se dentro da sua zona de conforto.
Para aqueles que não ligam para o fantasma da repetição, Far Cry 6 é um prato cheio, porém aqueles que esperavam algo totalmente o jogo pode frustrar um pouco, mesmo com a imensa variedade de coisas que se pode fazer dentro de um mapa gigantesco. Mesmo herdando alguns problemas dos jogos passados, Far Cry 6 é o melhor jogo da franquia, superando Far Cry 3 em praticamente tudo, inclusive o vilão. Se você é realmente um fã da franquia não pode deixar jogar Far Cry 6.
Esta análise só foi possível graças a Ubisoft Brasil e a Drone Comunicação que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança. O jogo já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.