Há inúmeras razões para se refazer algo. Talvez não tenha tido oportunidade para colocar tudo que querida colocar em sua obra quando foi lançada; talvez, por razões técnicas, a obra tenha ficado presa à época em que saiu ou, quem sabe, refazer e lançar novamente sua obra seja uma excelente forma de conseguir uns trocados.
Destroy All Humans! 2 – Reprobed é, de certa forma, uma junção de todas as três razões para se refazer algo.
Recebendo o mesmo tratamento que foi dado ao primeiro jogo da franquia, a sequência carrega agora gráficos verdadeiramente atemporais, os quais, juntos com uma deliciosa refinada na jogabilidade, fazem com que nem mesmo alguns defeitos antigos e novos impeçam esse jogo de ser encantador e de fácil recomendação para fãs da série.
O ano é 1969, acompanhamos novamente o aliem Crypto, agora tendo como disfarce principal o de presidente dos Estados Unidos, aproveitando sua boa vida e deixando os planos de dominação global quase que no plano de fundo, quando um ataque surpresa de origem soviética destrói sua nave mãe e dá início à uma jornada envolvendo destruição, intriga internacional e, obviamente, amor.
E que jornada inesperadamente robusta. As diversas missões principais levam o protagonista para um punhado de locações diferentes no globo, as quais são surpreendentemente detalhadas. O fato de não serem tão grandes a ponto de rivalizarem os mundos de GTA e jogos da Ubisoft se mostra, na verdade, uma grande vantagem.
As locações possuem o tamanho que necessitam ter, sendo possível trafegar de uma ponta a outra – seja flutuando ou com o disco voador – em poucos segundos, o que torna a exploração algo fácil e bastante agradável.
Além disso, como dito, todas elas possuem um nível de atenção em sua construção que as tornam distintas, positivamente caricaturadas e (quando as condições certas de luz se apresentam) bem bonitas. Ou seja, não são realistas ou extensas, mas tem muita personalidade.
Quanto ao que fazemos nelas, bem, resumidamente, destruímos muita coisa. Felizmente, essa é a principal qualidade do jogo. Assim como ocorreu com seu antecessor, o combate foi essencialmente mantido quando comparado aos jogos originais, com Crypto fazendo uso de uma série de armas, poderes e seu disco voador para questionar a futilidade de um ciclo sem fim de violên… claro que não, é para destruir muita coisa.
Mas o segredo está nos detalhes. Com o remake, todos os elementos do jogo relacionados à movimentação e ao combate foram sabiamente refinados. Agora, os simples atos de se movimentar, usar suas habilidades e atirar são extremamente prazerosos, e como o jogo é composto quase que por apenas essas três ações, consequentemente o ato de jogar Destroy All Humans é extremamente prazeroso.
Por último, nós temos a trama. Vejam, ainda que ela não seja profundamente intrigante e engajante, as situações absurdas que ocorrem e a excelente dublagem do jogo – que incluem a voz de Richard Horvitz, o Billy, de Billy e Mandy, e o Raz, de Psychonauts – conseguem compensar um pouco e fazer a jornada valer pela história.
Porém é aqui que começam os defeitos. O primeiro a ser mencionado não é nem culpa do remake, pois é sobre como o roteiro do jogo “envelheceu”, mas não da maneira que imaginam. Logo no começo, assim como ocorreu com o primeiro, há um aviso informando que as visões, opiniões e comentários são caricaturados e fruto de um texto de 2006 e, consequentemente, podem ser ofensivos e coisas do gênero.
Só que a questão não é sobre como o humor desse jogo é ácido, é sobre como ele não é. A maior parte dos comentários que os personagens fazem com a intenção de serem polêmicos simplesmente acabam sendo engraçados, quase que não intencionalmente, no sentido de “nossa, não acredito que tentou ser politicamente incorreto mandando essa”. Ou seja, a acidez que o jogo tinha em seu lançamento foi perdida com o tempo.
A única coisa que fará as pessoas se incomodarem é que, algumas poucas vezes durante as muitas interações que Crypto tem com uma personagem feminina relevante na trama, ele soa tóxico e desagradável. Não de uma maneira polêmica, mas sim quase possessiva e nenhum pouco engraçada.
Agora, o que infelizmente é culpa do remake são os defeitos técnicos. Começando pelo menos problemático, nós temos a performance do jogo, a qual não é tão suave, mesmo no Series X. Ele tenta bravamente alcançar os 60 FPS, mas o nível de detalhamento do mundo e a escala da destruição impedem de alcançar o nível de fluidez de seu antecessor.
Felizmente estamos vivendo a era da retro compatibilidade, então gerações futuras de consoles (ou, na atualidade, um PC relativamente forte) conseguirão uma experiência impecável.
Contudo, o jogo é, pelo menos próximo de seu lançamento, amaldiçoado com uma grande quantidade de bugs.
Temos para todos os gostos: Inimigos obrigatórios que ficam presos em mapas? Mas é claro! Uma missão que constantemente falha sem motivo aparente, fazendo-me reiniciá-la três vezes até que ela decidiu que eu merecia ganhar? Óbvio! A física de um ambiente específico não se dando bem com uma arma em especial e muito útil, resultando em seus projeteis ficando presos no ar? Nunca tinha visto isso antes, descobrimos coisas novas todos os dias. Teve até uma missão opcional que me passou os comandos errados!
Tudo isso é algo que, a depender da data que você estiver lendo isso, pode se tornar apenas uma memória, levada embora por meio de atualizações. Mas na época em que o jogo foi finalizado para essa análise, eram problemas bem reais e que genuinamente atrapalharam a experiência.
Mas por mais inconvenientes que sejam os defeitos do jogo, é um testamento de sua qualidade o quão divertido ele consegue se manter. A Black Forest Games não só conseguiu retirar um jogo preso às limitações de 2006 como garantiu que ele ganhasse ares atemporais, com sua apresentação estilizada e jogabilidade refinada.
A sensação que Destroy All Humans 2 nos deixa após seu fim é a de que ainda há espaço para que suas mecânicas sejam mais bem exploradas em um design de missões mais audacioso e refinado. Felizmente, após 2 remakes, a atual desenvolvedora provou entender e amar a franquia que atualizou e se mostra mais do que apta para levá-la até novos ares. Posso morder minha língua, mas acredito que o futuro de Crypto seja bem promissor.
Esta análise só foi possível graças a THQ Nordic, que gentilmente nos disponibilizaram uma cópia para avaliação do jogo, fica aqui o nosso agradecimento pela confiança. O jogo já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S e pode ser adquirido por meio do nosso link afiliado no final desta análise.